Iniciei minha graduação em 2005, além da minha havia outras 4 turmas de primeiro período, em média 230 alunos (instituição particular é isso aí, ninguém fica de fora).
Era o segundo curso mais procurado da universidade. Me formei em 2008 com uns 50, destes, um pouco mais da metade já trabalhava na área, dois anos depois, me lembro com certeza, não havia sobrado 15.
Tem algo errado aqui, não acha?
Mesmo sem considerar os que se formaram depois, concordamos que é bastante gente desistindo. Eu mesmo me considero sortudo de gostar e ainda atuar na área de formação. Se tivéssemos tido mais professores alertando como era o trabalho na prática, com certeza teria poupado o tempo de muita gente.
E esse é meu objetivo de hoje, apresentar umas verdades de forma bem direta, que considero essenciais saber antes de iniciar nesse ramo.
Não se iluda com o nome do curso.
O nome da graduação é muito legal, o problema é que os calouros romantizam demais, tal qual um adolescente apaixonado pela primeira vez, que vê o nome e conclui:
”Vou fazer comércio no exterior!”
Vai sim campeão, num escritório (quem sabe um Home-Office), através do telefone, E-mail, Skype, WhatsApp… Nosso trabalho é realizado quase todo a frente de um computador, aceita essa verdade cedo para evitar decepções.
Claro que há os Traders que viajam fechando novas vendas ou agentes de carga que procuram novos parceiros em outros países, mas são uma minoria e ralam muito até chegarem nesse patamar.
Eu como importador e comprador, não tenho razão para viajar até os vendedores, pois são eles que veem ao Brasil e me procuram para marcar reuniões onde trabalho.
Esteja empregado bem antes de se formar.
A maioria das graduações são matutinas ou noturnas, então é tranquilo para conseguir um estágio ou emprego já no início do curso e lhe dou 3 motivos para fazê-lo:
- Descobrir o mais cedo possível se vai gostar;
- Desenvolver seu network;
- Adquirir experiência mais cedo, pois o mercado está cheio de formados que nunca trabalharam na área e este é um diferencial – deixar para depois reduz suas chances.
Inglês de qualidade é mais importante que o diploma.
Faz tanto sentido um profissional de comércio exterior não saber inglês, quanto um engenheiro que não gosta de números, e nossa, como tem de profissional assim!
É absurda a quantidade de pessoas com mais de 25 anos que possuem inglês básico ou nenhum, isso quando não informam no CV ter qualificação Intermediária/Avançada e, na hora da entrevista em inglês (que sabiam que haveria), a verdade vem à tona em belos momentos de vergonha alheia.
Infelizmente é a minoria que aprende com qualidade apenas com curso de inglês, então se po$$ível, trabalhe em outro país (que fale inglês, né?!) por 3 meses ou 1 ano (isso mesmo, tranque seu curso se achar necessário).
Além de turbinar o aprendizado, tem diversos outros benefícios que o Matheus aborda nesse artigo.
Se tiver essa oportunidade, evite ficar cercado de brasileiros ou terá sido uma experiência em vão. Somente sendo obrigado a conversar em inglês que conseguirá quebrar essa barreira que temos para nos comunicar e aprenderá de verdade.
E, muito importante, depois de aprimorar bem, não seja aquela pessoa que inclui palavras e termos em inglês no meio da conversa em português.

Domine o Excel.
Essa é a principal ferramenta para otimizar seu dia, uma planilha bem automatizada economiza tempo e reduz erros, independente do segmento que venha a atuar no comércio exterior, seja para calcular impostos, analisar a performance logística ou preparar cotações.
E para aprender é fácil, tem cursos no Youtube, Udemy e diversos outros sites especializados. E assim como o inglês, o Excel será útil em qualquer área da profissão (ou fora) que escolher seguir.
Aprenda Mandarim apenas se tiver uma oportunidade específica.
Passei o curso inteiro ouvindo professores e outros da universidade dizerem essa baboseira:
”A China é o nosso principal parceiro de negócios, então o mandarim é essencial no currículo.”
E o curioso que quem falava isso é que não sabia dizer nem ”Bom dia” no idioma.
A China é, economicamente, a maior do mundo e eles sabem que falar inglês é primordial para que consigam comprar e vender, senão sua economia quebra, então para que precisamos saber mandarim se todos lá, que importam e exportam, falam inglês?
Os poucos que conheci que tentaram aprender mandarim, desistiram em menos de um ano e me contaram que era tão complexo que levaria 10 anos de muita dedicação até conseguirem conversar num nível básico.
Melhor usar esse tempo com inglês e espanhol, não concorda?
Networking é mais importante que nota alta.
Um professor durante sua aula nos disse ”o mercado não está preocupado com as notas nas matérias, lembrem de vez em quando de saírem para beber no bar com seus colegas”.

Ele continua certo até hoje, desconheço empresas que solicitem as notas do curso como requisito, e como mencionei: histórico profissional e inglês de qualidade são mais procurados, então se conseguir a recomendação de um amigo, suas chances vão elevar consideravelmente.
O cara que tira 10 em tudo, recebe o mesmo diploma da turma da nota 7. Nossa área exige muito trabalho em equipe (falei disso no meu último artigo), por isso a Inteligência Emocional é mais importante que ser um crânio, ela te garante continuar no emprego e também crescer.
Cuidado com os ditos parceiros, registre TUDO por escrito.
Para angariar mais clientes, é comum prestadores de serviço se unirem em parceria e oferecerem um o serviço do outro, como, por exemplo, um Despachante Aduaneiro que recomenda um Agente de Carga, ou uma Trading Company que indica uma transportadora rodoviária, e normalmente recomenda-se quem já possua uma sincronia legal para desenvolver os trâmites, e eventualmente obter ganhos financeiros.
No entanto, são nessas parcerias que os FDP aparecem.
Digamos que você trabalhe num agente de carga, cuidando das importações de um novo cliente, o Despachante Aduaneiro dele era desconhecido até então. Um dia o tal Despachante te liga pedindo para mudar uma informação no Conhecimento de Embarque, você o faz, mas não registra o pedido por e-mail e essa alteração atrasa o despacho aduaneiro, gerando mais custo de armazenagem.
A culpa é dele, lógico, mas não duvide que ele negaria até a morte para o cliente e, consequentemente, a culpa será sua, pois terá o registro que você fez uma mudança que “ninguém solicitou”.
Para piorar, esse Despachante vai fazer a cabeça do cliente para que trabalhe com outro agente de carga, um ”parceiro” dele.
Um erro desses pode comprometer sua carreira na empresa e te desanimar de forma a querer procurar outra vida profissional, portanto, registre tudo, não importa com quem tenha sido a conversa.
Não alimente o cliente com falsas esperanças.
Infelizmente nossa indústria não faz muita questão de ter uma logística de suprimentos. Na prática, o conceito de Just in time se traduziria em bom português para “a água bateu na bunda”.

E adivinha para quem sobra salvar o dia? Pois é, você e o padroeiro não oficial do Comércio Exterior aprenderão que para o seu cliente, a palavra “urgente” tem diversas escalas:
- Urgente;
- Muito urgente;
- Urgentíssimo;
- Top Urgente (popular entre os jovens); e
- Urgentásso, a fábrica parou.
Independente do motivo da urgência, seu cliente vai pressionar bastante por uma previsão, mesmo que a mercadoria sequer esteja pronta para embarcar. É importante não ceder à pressão, considerar o pior cenário e não se comprometer sabendo que seus esforços não podem influenciar no resultado.
Mantenha-se informado sobre legislação e política internacional.
Não tem escapatória, o competente profissional precisar ler sempre, pois o comércio Exterior caminha junto do Direito e das Relações Internacionais, é difícil passarmos 3 meses sem que surja uma novidade relevante.
Mas não apenas ler notícias e novidades sobre o Regulamento Aduaneiro, direito marítimo, Fiata e benefícios fiscais. Procure ter contatos trabalhando nas áreas que você não atue, são os melhores para lhe contar as novidades em primeira mão e se elas afetarão os trâmites na prática, afetando, inclusive, o seu trabalho.
Aproveita aquela ida no bar que recomendei antes para isso.
Importante também saber interpretar o que ocorre na política internacional, conflitos armados, por exemplo, afetam o fluxo e a rota de navios e aviões. . Era sabido que a guerra comercial entre EUA x China influenciaria no comércio exterior Brasileiro, tanto que prejudicou o setor metalúrgico e beneficiou o agronegócio. Antecipar as consequências reduzem prejuízos e permitem aproveitar antes as oportunidades.
***
Poderia dizer também que a profissão é estressante, mas todo trabalho é, o que difere é o quanto cada pessoa é capaz de tolerar cada tipo de estresse – somente na prática para saber se dará conta. Tampouco quero apresentar conselhos que são comuns em qualquer graduação, isso vai depender unicamente de sua maturidade de correr atrás.
Espero de coração que estes conselhos te ajudem a priorizar o que precisa para se tornar um profissional de qualidade ou lhe motivem a mudar de carreira, claro que todo conhecimento tem seu valor, mas é chato desperdiçar tempo e dinheiro numa graduação que será abandonada logo depois de formado.
E você, leitora(o)?
Essa lista é limitada à minha experiência profissional, eu mesmo nunca trabalhei num porto ou agente de carga, então é possível aumentarmos a quantidade de conselhos nos comentários. Se ficou com dúvidas ou não concorda comigo, comente também, quero muito continuar esse papo.
Se preferir uma mentoria profissional para sua carreira ou empresa de Comércio Exterior, me chama! O primeiro papo é gratuito.
Quem é o Jonas?
É um cara formado em comércio exterior, que trabalha há mais de dez anos com importação, compras e logística internacional, e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Agora ele quer dividir essa experiência com todos, de forma simples e bem humorada.
Além de aprimorar a escrita no Linkedin, pratica artes marciais, enfrenta eternamente sua pilha de livros, joga vídeo game desde o Atari e também curte ajudar os outros profissionalmente.
Talvez ele possa te ajudar, que tal procurá-lo?
Show de bola Jonas.
Estou louco para me jogar nessa armadilha, logo seremos colegas de profissão!
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Valeu André! Mas se continua afim mesmo depois dessa leitura, então vem junto mesmo!
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Olá parabéns pelo artigo , gostei demais. Sabe, sou formada em eng de produção e irei começar pós em logística , mas tenho uma queda por comex e tô tentando casar aí essas três áreas : eng/ logística e comércio exterior .
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Oi Glaucia! Que bom que gostou do artigo.
Conheço algumas pessoas formadas em comex que fizeram pós em Engenharia de produção, principalmente para se desenvolverem em setores de Supply Chain. Então não vejo porque não possa seguir um caminho similar 🙂
Abraços!
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Pingback: O que aprendi no intercâmbio Work Experience. – Jonas Vieira
Nossa muita coisa que estava me deixando com dúvidas depois de ler sua publicação só tenho mais certeza de que vou entrar no curso certo pra mim, todos falam que por ser mulher será mais difícil de ganhar lugar nessa profissão; mas realmente agradeço pela resenha só me deu mais coragem de cair nesse mundo que é o comércio exterior. Obrigada!
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Pingback: Precisamos conversar sobre a banalização do "Inglês Fluente". - Jonas Vieira