Salvo exceções, como tudo nessa vida, ser cliente é bem mais tranquilo que fornecedor, ele determina quem será o contratado e receberá seus recur$o$, contanto que se adapte à forma de trabalho e atenda à qualidade esperada, com o mínimo de trabalho possível para o adquirente.
Esta posição de poder tem a capacidade de despertar os piores vícios, transformando um “simples” cliente no vulgo “estúpido”, “babaca”, “FDP”, “escroto”, “idiota” e qualquer outro adjetivo que você, prestador de serviço, lembre e braveje ao desligar o telefone ou receber aquele e-mail “lacrador” com todo mundo em cópia.
“Ahhh não consegue fazer do jeito que pedi!? Beleza, deixa que teu concorrente faz, TCHAU.”
Pior ainda é a relação em áreas como comércio exterior, logística e qualquer outra que o cliente participe durante o trabalho, pois ele está presente nos trâmites, em cópia dos e-mails, lhe procurando e sendo procurado. É uma relação que gera aproximação, mas que muitos clientes confundem com liberdade e acabam assumindo um comportamento mais desagradável ainda.
“Aff! Me ligando já cedo para encher o saco!”
Evidente que não está limitado ao Comércio Exterior, todos nós somos clientes de alguém, seja no trabalho ou na vida pessoal.
Gostaria de lembrar que não sou guru, coach, não estou segurando microfone na foto do meu perfil, nem estou aqui para proporcionar autoajuda…. Meu trabalho como importador torna-me igualmente cliente de todos os envolvidos na operação, o que divido aqui é baseado em minha experiência profissional e no que tenho consumido para mudar e me policiar.
Estou aqui para dividir minhas experiências, absorva o que for útil e descarte o resto.
Por que estar na posição de cliente pode me transformar para pior?
Nossa conduta está em constante mutação e acredito que temos três principais influenciadores.
Começa em nossa infância e adolescência com nossos pais, avós ou a figura que você teve como referência, quando somos instruídos e disciplinados com diversas ferramentas que variam conforme a região e geração, como chinelo, cinta, varinha de marmelo ou, até mesmo, ficar sem videogame…

Depois temos nossos amigos, que vão nos alertar e também ajudar quando ”nos passamos”, normalmente nos ouvindo, para entender o que há de errado, pois não começamos a nos comportar mal sem razão.
Por último, a pessoa que escolhemos amar, o amor é um sentimento que potencializa nossas emoções e, consequentemente, nossas reações. Parte do sucesso de uma relação afetiva está em ter humildade para ouvir e aceitar as críticas recebidas, do contrário, pode acabar ficando sem videogame outra vez. 😦
O que estes três influenciadores têm em comum? A liberdade de vir até mim e me alertar quando eu me expressar de forma desagradável – mas meus pais moram longe, não vejo meus amigos todos os dias, e, mesmo que minha namorada seja quem esteja mais presente entre esses três, é no meu trabalho, onde passo mais de um terço do meu dia, que estou predominantemente na posição de cliente.
Entendeu minha preocupação? Passo mais tempo em contato com pessoas que não têm essa liberdade e pior, estão dispostas a tolerar o pior Jonas possível em prol de resultados.
Por que devo ser um bom cliente?
Porque você está se relacionando com pessoas. Isso deveria lhe bastar.

Mas se isso não bastar, lembre-se que estas pessoas, quer goste ou não, fazem parte da sua rede de contatos – são profissionais que conhecem diversas outras empresas e que podem, um dia, vir a precisar ou indicar de alguém com suas qualificações.
Esse tal de network, sabe?
Quem que indicaria uma pessoa que trata mal aos outros? Ninguém vai pôr a mão no fogo por você e, verdade seja dita, a gente até comemora quando um cliente chato é mandado embora ou vai para outra empresa.
Longe de mim desejar o mal, mas prezo pela minha saúde mental.
No dia-a-dia também existem vantagens, mas são complicadas de mensurar. Uma postura amistosa permite que os fornecedores lhe procurem para expor melhor o trabalho realizado, as dificuldades que sofrem ou diferenciais que possuem.
Essa informação extra pode ser aquele detalhe que fará toda a diferença para otimizar o trabalho.
Como faço para me tornar ou continuar um bom cliente?
Não é algo que podemos simplesmente escolher ao levantar de manhã cedo: ligar a chave cerebral “Educado” e desligar a “Coices Gratuitos”.
“Cliente bom é aquele que te contrata e paga em dia, mais que isso, é perda de tempo.”
Será? Por isso, optei por listar quatro virtudes que acredito serem mais importantes para alcançar este objetivo, pois acredito que a mudança vem, gradativamente, pelo exercício de praticá-las.
Humildade
O humilde, ao encontrar um erro, não alimenta o ego com showzinho nos e-mails, berrando no telefone ou dando “carteiraço” com o cargo e empresa que atua, ele se preocupa em resolver o problema, descobrir a causa (não confunda com apontar dedos) e garantir que não se repita.
“Faça do jeito que eu disse, se não, esquece a minha empresa! Quantos você vai ter que mandar embora se nos perder como cliente?”
Lembre-se que você é um ser humano, que erra e precisa se relacionar com outros da mesma espécie, também suscetíveis a erros, desde o menor aprendiz até o presidente.
Cortesia
Essa virtude tornará a comunicação com você civilizada e educada, mas a forma de se expressar pode sim ter flexibilidade.
Não estou dizendo para ser uma Falsiane, mas tenha bom senso, não faz sentido querer agir com seus fornecedores (e até superiores) da mesma forma que, quando está com seus melhores amigos e cônjuge, as liberdades para expressar piadas e opiniões diferem em cada grupo.
“E aí arrombado, cadê a minha cotação?”
Sabe como é ser chamado a atenção com cortesia? A pessoa se comunica em baixo e constante tom, olhando no fundo de seus olhos com semblante de decepção e sem utilizar adjetivos pejorativos.
É assustador! E sabe por quê? Porque é a minoria das pessoas que assim o fazem, pois reagir com chiliques é o que mais vemos por aí.

Empatia
Considero a mais difícil de exercer, justo a mais capaz de influenciar positivamente as demais virtudes. Estamos muito preocupados com nosso bem-estar, nosso sucesso, e esquecemos que se os que nos cercam estão bem, isso refletirá positivamente de volta.
O problema pode não ser de procedimento, e sim de pessoas, e talvez o cliente seja o mais indicado para resolver. Ou você acha que só porque você o(s) contratou não precisa se preocupar com o ser humano que está lá tentando fazer o seu melhor?
“Esse teu funcionário é muito burro, arrume outro e logo!”
Lembre-se da raridade que é receber de um cliente um “Obrigado”, “Muito bem” ou um pedido de desculpas, e como nos sentimos bem quando recebemos. Ninguém é pago para estragar o dia dos outros, então peça desculpas quando se exaltar com alguém, quanto antes o fizer, maior a chance do dia dessa pessoa não ter sido estragado.
Ou a semana, mês, ano… Todo mundo passa por uma situação dessas, sequer lembramos o que foi dito, mas jamais esquecemos o que sentimos.
Introspecção
A eliminação do comportamento nocivo vem com a prática e mais rápido será, se prestar atenção nos seus atos e refletir (com humildade e empatia) sobre os resultados gerados.
Quanto mais entender como você mesmo funciona (o que lhe irrita, tranquiliza, motiva…), maior controle terá sobre suas respostas automáticas, lembre-se da frase atribuída ao filósofo Sócrates:
“Conhece–te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”.
Experimente também pedir feedback aos seus fornecedores, talvez não direto à pessoa que você se relaciona, o superior dela pode se sentir mais à vontade para conversar sobre sua postura.
***
Claro que estas virtudes devem ser trabalhadas sempre, mas acredito que ao ser um cliente melhor, consequentemente teremos melhores relações com qualquer pessoa. Nem me considero 100% praticante delas, mas estou seguro de estar progredindo e escrever sobre isso me ajuda ainda mais.
E você, leitor?
Gostou das virtudes apresentadas? Ficou parecendo autoajuda (espero que não, sério)? Já ouviu essas frases soltas pelo artigo serem ditas no seu trabalho? É válida a preocupação ou o negócio é vender?
Este artigo foi bem diferente de meu usual, seus comentários e curtidas serão de grande valia para mensurar se devo tratar mais de assuntos não limitados ao Comex.
Quem é o Jonas?
É um cara formado em comércio exterior, que trabalha há mais de dez anos com importação, compras e logística internacional, e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Agora ele quer dividir essa experiência com todos, de forma simples e bem humorada.
Além de aprimorar a escrita no Linkedin, pratica artes marciais, enfrenta eternamente sua pilha de livros, joga vídeo game desde o Atari e também curte ajudar os outros profissionalmente.
Talvez ele possa te ajudar, que tal procurá-lo?
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