O profissional de Comércio Exterior que realiza importações e exportações sabe o quanto a logística portuária afeta na produtividade e no custo total das operações.
Ela é a razão de passarmos pelas mais tensas situações, tais como conflitos no despacho aduaneiro, infelizes surpresas nas vistorias de carga, embarques rolados, carregamentos e descarregamentos não realizados…
E mesmo que tenhamos 175 instalações portuárias nos conectando por água mundo afora, diversos aspectos negativos atrapalham nossa competitividade perante o comércio mundial, bem como em proporcionar uma redução do preço pago pelo consumidor final.
O profissional de Comércio Exterior precisa entender a logística portuária para evoluir na qualidade de suas operações, por isso o texto vai apresentar os desafios dela no Brasil e como impacta no país.
O que é Logística Portuária?
A resposta estilo 5ª série seria “a logística do porto”, entretanto, não há nada de simples num lugar que recebe veículos por terra e água, movimenta cargas domésticas e de longo curso (ou seja, entre portos de diferentes países), sempre observando a legislação local, aduaneira, marítima e de diversos órgãos públicos ao mesmo tempo.
Ah, tudo isso lidando com os clientes do Comércio Exterior, que são os mais tomados pela urgência.
Para definirmos em poucas linhas:
Logística portuária é a gestão de mercadorias e pessoas, realizada numa infraestrutura que conecta o transporte terrestre e aquático, respeitando os processos administrativos das legislações que afetam a exportação, a importação e a cabotagem.
Vemos a complexidade mesmo que analisando unicamente a gestão de mercadorias, por mais que usemos scanners em contêineres, ainda é necessário abri-los para serviços como: separar, identificar, etiquetar e colher amostra.
Somado a isso ainda pode-se envolver a movimentação de muitas pessoas para o porto funcionar, são os estivadores, operadores de maquinário, caminhoneiros, despachantes aduaneiros, importadores, exportadores, fiscais de órgãos públicos, polícia federal…
Não citei nem metade dos que encontro ao visitar um porto.
Quais os desafios enfrentados na logística portuária brasileira?
O desafio para a logística portuária brasileira superar está principalmente em nossa infraestrutura.
É vago definir um único problema, mas entenda que, para um porto funcionar com máxima eficiência, é preciso infraestrutura além da área portuária.
Poderia lhe dar diversos exemplos práticos do que sofremos no Comércio Exterior, mas vamos usar o relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial.

A infraestrutura é o quinto principal fator problemático para fazer negócios no Brasil, dos 137 países avaliados neste relatório, temos a 73º melhor infraestrutura mundial.
Septuagésima terceira, também fiquei pensando como se fala quando escrevi.
E menção honrosa para as 3 primeiras colocadas que, com certeza não estão ajudando no desenvolvimento da logística portuária brasileira:
- Carga tributária;
- Corrupção; e
- Burocracia ineficiente.
Enfim, considerando a infraestrutura o principal desafio, sofremos com os seguintes sintomas e consequências:
A participação do Brasil no comércio mundial é pífia.
Há muitos anos que a atual 10ª maior economia do mundo representa apenas entre 1 e 1,4% do comércio mundial.
E não porque os demais países na frente estão no mesmo ritmo que nós, é por nossa balança comercial que oscila tanto, provando que não temos planejamento a longo prazo.

Igualmente vemos na logística portuária ao consultar a evolução de atracações de embarcações em longo curso, nos portos públicos (vermelho) e privados.
Sobe, desce, sobe, fica na mesma, desce…
Se não temos um constante crescimento no comércio mundial, não conseguiremos desenvolver a necessidade de evoluir na infraestrutura, pois a logística portuária atual teoricamente é o bastante.
Talvez até não seja, mas uma hora a movimentação cairá novamente (sei que o ideal é estarmos com uma infraestrutura melhor que o necessário, mas estou apelando para o que entendo ser a mentalidade brasileira de governar).
Falta de desenvolvimento de áreas portuárias.
Como afirmei anteriormente, áreas portuárias vão além dos portos.
Afinal, a qualidade da logística portuária é comprometida se as condições do transporte rodoviário e aquaviário que ele conecta não estiverem bem desenvolvidas.
Não é raro no Comércio Exterior a transportadora contratada perder o horário agendado a comparecer no porto, porque:
- Ficou preso no trânsito da rodovia que não é duplicada;
- Furou um pneu numa cratera apelidada de buraco; ou
- Teve o caminhão roubado num trecho mal iluminado.
Como os caminhões no ano passado no Porto de Paranaguá que chegaram a esperar até 2 dias para descarregar.
Se os caminhões não conseguem carregar ou descarregar mercadorias nos horários agendados, o fluxo logístico do porto é comprometido e as embarcações precisam aguardar mais tempo que o normal, como em 2018 que precisou aguardar no porto de Santos até 9 dias.
Para portos como Santos e Itajaí, é quase impossível resolver o problema do trânsito, uma vez que não houve planejamento no crescimento dessas cidades que acabaram “engolindo” estes terminais.

Mesmo relevando a questão de calado (profundidade para atracação, explicação rápida), é possível acreditar que algum dia o porto de Itajaí cresça em movimentação para alcançar o nível que o porto de Santos tem hoje?
Limitadas opções de portos
São mais de 175 terminais todavia, cada um possui uma logística portuária limitada para atender determinados tipos de navio, carga e cliente.
Não consigo filtrar no sistema da ANTAQ os aspectos acima, mas vamos trabalhar com o que temos:

Por exemplo, nem todos os terminais:
- São alfandegados para receber embarcações em viagem de longo curso.
- Possuem profundidade de calado para receber todas as embarcações que navegam no Brasil.
- Recebem navios graneleiros pois são portos dedicados apenas a contêiner.
Visualizando o mapa e considerando os motivos pelos quais afirmo termos poucos terminais, de modo que menos opções.
Consequentemente, menos opções resultam num aumento de preço e limitam a escolha em razão da distância (uma vez que não temos malha rodoviária e ferroviária capaz de supri-la), pergunto:
Quanto um porto mais distante de você precisa ofertar, para compensar o custo extra de transporte rodoviário?
Quanto precisa e o quanto pretende, pois se você não tem um volume de embarques relevante (como a maioria das empresas que atuam no Comércio Exterior brasileiro), terá que se contentar com a tabela padrão mesmo.
O impacto da logística portuária na economia do país.
O impacto está ligado às operações de exportação e importação (também na cabotagem, mas o foco aqui é o comex). E ele pode variar bastante conforme o tipo de produto.
É fácil diluir o custo portuário na escala, como de grandes embarques a granel, com diversos contêineres ou carros em navio Ro-Ro.

Por outro lado, esse custo representará de 30% a 40%, ou mais, em operações menores, como importações LCL (Parte Contêiner) ou de commodities de baixo valor transportadas em contêiner.
É impossível hoje exportarmos ou importarmos por água sem utilizar um porto, então independente do quanto ele impacte economicamente, é essencial que ele oferte um serviço a preço baixo para não encarecer o cliente final, estando ele no Brasil ou fora, que é quem realmente paga por todos os custos.
E para manter este baixo valor precisamos de infraestrutura para realizar a logística com qualidade e mais opções para ajudar no custo das pequenas e médias empresas que operam no Comércio Exterior.
E você, amiga(o)?
O que achou do assunto? Que outros desafios entende que temos que enfrentar na logística portuária, dentro do Comércio Exterior? Na sua opinião, quais os caminhos para se melhorar a infraestrutura? Vamos continuar conversando nos comentários.
Este artigo foi escrito para a GETT e foi publicado originalmente em seu Blog.
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