Para reduzir custos no comércio exterior, comece sendo um bom cliente.

A busca pela redução de custos no Comércio Exterior é eterna, ela está presente em… saber que não se decide pelo LCL apenas pelo frete, que planilhas não conseguem otimizar tudo e que trabalhar mais horas no dia não é sinônimo de produtividade.

Mas é possível também reduzir custos na forma como você trata seus prestadores de serviço, e as empresas do Comex deveriam se interessar muito por isso.

Portanto, considerando que (no momento) estou longe das operações (pelo menos diretamente), somado ao que ouço de reclamação por parte de conhecidos que atuam na área, levantei algumas dicas que podem ser aplicadas por qualquer perfil de importador ou exportador.

Algumas dicas de como ser um bom cliente no Comércio Exterior.

Pelo bem do seu networking e saúde mental, comece não sendo um cliente idiota, pois sei que para quem ‘manda’ quem vai fazer o despacho aduaneiro, o frete internacional ou qual porto irá manusear sua carga, a tentação é grande.

Contudo, assim como mencionei no texto linkado acima, as sugestões abaixo se encontram muito mais na categoria Soft Skills.

Claro que as Hard Skills são importantes, há tempos que falo e ainda falarei muito delas, mas é preciso buscar equilíbrio entre ambas.

Pare de tratar todos os seus processos com urgência.

Tem cliente no Comércio Exterior que quando digita a letra U o autocompletar do teclado sugere a palavra URGENTE.

Esta é uma palavra que deveríamos ver raramente nos tópicos de e-mail, contudo, não são poucos os clientes que banalizam seu uso.

Por que isso aumenta seu custo?

Basta esta palavra estar presente no assunto do e-mail para lhe ofertarem fretes mais caros, carregamento prioritário e qualquer outro serviço que tenha um custo extra em razão DA SUA urgência.

E, francamente, os prestadores de serviço não estão errados! Você disse que era urgente, que a fábrica ia parar e pipipi-pópópó…

Apesar disso gerar uma receita maior, a verdade é que, à medida que se dão conta de que para certo cliente a palavra ‘urgente’ é tão comum quanto tomar um cafezinho no Comércio Exterior, eles vão cobrar este extra da urgência, mas não vão tratar seu processo como tal.

Com certeza no meio dessa penca de urgentões, há produtos que chegaram voando (alguns literalmente) para depois mofarem no seu almoxarifado por 30 ou 60 dias.

Sugestão.

Se todo processo é urgente, naturalmente que este é um sério sintoma de que sua cadeia de suprimentos precisa de atenção e não é neste artigo que vou lhe dizer o que fazer.

Ou você adquiriu essa mania feia com algum colega ou superior que trata tudo dessa forma, igual a turminha que fica metendo palavrinha em inglês numa conversa em português.

Enfim, crie o hábito de trabalhar com datas e valores, ao invés de chamar de Urgente.

Urgente é adjetivo, coisa que não combina com Logística.

Igual àquela tua amizade que escreve “já tô chegando”, mas na verdade acabou de entrar no banho.

Não interrompa os prestadores de serviço (ou qualquer pessoa!) à toa.

Sabe o que é pior que um cliente que trata todo processo como urgente? Um cliente sem-noção que, ao contratar uma empresa do Comércio Exterior para realizar UM PROCESSO, acha que o profissional dela se tornou um assistente 24 horas.

E, para fazer bom uso de seu novo Consigliere, ele deixa de utilizar o cérebro para perguntar qualquer coisa a qualquer hora e, claro, por telefone ou qualquer outro meio que permita uma resposta imediata.

Afinal, na cabeça desse cliente ele provavelmente pensa:

”Onde já se viu meu Consigliere do processo de 100kg e CIF 1k bidens não me responder imediatamente? Tô pagando por isso!”

Por que isso aumenta seu custo?

Creio que interrupções desnecessárias são um dos maiores problemas de trabalhar com Comércio Exterior, sem contar que, de acordo com esta matéria sobre interrupção no trabalho , nós levamos, em média, 23 minutos e 15 segundos para voltar à mesma atividade.

Portanto, além de suas interrupções colaborarem para que seu despacho aduaneiro não seja realizado no dia da presença de carga, você estará ajudando para aumentar as chances de erro.

Nem preciso linkar estudos aqui, todos sabemos que erramos mais quando nos tiram da concentração. Inclusive esse é um dos meus argumentos para o fato de que escritórios de Comércio Exterior sem baias ou paredes sejam menos produtivos (papo para outra hora).

E esse seu Consigliere não vai sair de graça, as empresas sabem mensurar quando um cliente está consumindo mais tempo de seus colaboradores do que o normal e: ou isso será cobrado nos processos seguintes, ou eles te demitirão como cliente, de tão chato que você é.

Sugestão.

Assim como com a palavra Urgente: tenha bom senso, ligue para seus prestadores de serviço somente quando realmente necessário.

Claro que existem assuntos que são resolvidos com mais rapidez pelo telefone, mas tente padronizar o horário de suas ligações (não urgentes), isso fará bem para a produtividade do seu prestador de serviço e para a sua também.

Mantenha seus prestadores de serviço informados.

Aprendi essa de uma péssima maneira.

No estaleiro onde atuava, uma placa eletrônica de algum sistema (que nem lembro mais o nome) havia queimado e precisei importar uma nova da Alemanha.

Cotei o frete aéreo na quarta e fechei no mesmo dia com um agente de carga novo que estava indo bem. Instrução de embarque enviada, iriam coletar na quinta para embarcar na sexta e chegar em tempo.

Tudo ocorreu bem na quinta e senti que podia curtir o feriado da sexta sem preocupação.

Por que isso aumenta seu custo?

O feriado na sexta era municipal e estava em outra cidade nesse dia.

Eu trabalhava sozinho na importação e havia esquecido de avisar ao agente de carga sobre o feriado local e passar o meu número de celular para ele.

Ocorreu um problema no embarque na sexta (Lei de Murphy, se não tivesse feriado não aconteceria!) que precisava do meu ‘de acordo’ na alternativa que era mais cara, mas que respeitaria o prazo que pedi.

Quando eles conseguiram me ligar já era tarde, mas, por sorte, o custo extra não era tão alto e eles haviam decidido por conta própria seguir nessa opção.

Sugestão.

Rotina e Comex são duas palavras difíceis de vermos na mesma frase, MAS, mesmo assim, sempre avise aos envolvidos nas suas operações de Comércio Exterior sobre qualquer mudança a respeito de:

  • Férias, feriado, afastamento por qualquer motivo.
  • E-mail, telefone, endereço.
  • Emissão de NF, data de pagamento.
  • Horário de funcionamento.

E avise com antecedência, aprenda com o meu erro acima!

Dê Feedback (especialmente para elogiar).

Gostamos de dinheiro, de embarcar no prazo, de registrar a DI no Canal Verde (zoeira), de ver a carga chegar antes do prazo, mas é questão de tempo para que isso não seja mais o suficiente.

Todo mundo precisa de reconhecimento. E, se não insistíssemos no papo de adolescente-rebelde que diz que não precisa de ninguém, receber elogios não nos deixaria tão encabulados e saberíamos como reagir. Talvez soubéssemos, se isso fosse frequente.

Eu que já publiquei quase 120 artigos aqui na rede ainda me animo quando vejo as curtidas, e muito mais com os comentários e compartilhamentos.

Me sinto reconhecido!

Assim como é importante apontar o que é preciso melhorar, o que pode nem ser um defeito e sim uma personalização para facilitar sua vida.

Por que isso aumenta seu custo?

A falta de feedback nos faz crer, inicialmente, que está tudo certo, mas caso passe o dia incomodando seus prestadores de serviço sem nunca ser capaz de reconhecer ou elogiar (já que trabalha com eles há um bom tempo), aí você precisa mesmo é trabalhar sua empatia pois, como no assunto urgência, a motivação para lhe atender com efetividade com certeza vai despencar.

Mas o pior para você vai ser ter que mudar de prestador de serviço porque nunca se dignou a ter conversado com o atual enquanto ele lhe atendia.

O que, além de ser um comportamento, no mínimo, de FDP desagradável, exigirá de você toda uma energia e custo para que uma nova empresa se adeque às suas necessidades.

Sugestão.

Além do feedback, lembre-se de fazer isso constantemente, de forma proporcional à quantidade de processos.

Solicite Feedback.

Acha mesmo que só seus prestadores de serviço têm algo a melhorar? Comércio Exterior é um grande trabalho em equipe e a perspectiva deles é excelente para lhe ajudar a melhorar também.

Isso, lógico, desde que solicite com humildade e tenha dado o seu feedback a respeito deles também (como mencionei acima), não adianta pedir algo tão importante sem ter oferecido primeiro.

Por que isso aumenta seu custo?

Porque o problema/gargalo/culpa pode ser você.

Ser cliente não significa ter sempre a razão, não importa se você tem três décadas de Comércio Exterior: as coisas mudam e evoluímos para errar em outros assuntos.

Além disso, talvez uma única sugestão de melhoria, que irá tornar mais fácil o trabalho de um prestador de serviço, pode ser uma ótima ideia para otimizar o seu lado.

Sugestão.

Depois de receber o feedback, agradeça, reflita e faça bom uso daquilo que for útil.

Pague em dia.

Importações e exportações possuem custos que precisam ser pagos muito antes da operação gerar alguma receita, por isso o planejamento da operação não diz respeito apenas a logística e valores, mas também ao seu fluxo de caixa.

E é quando falta dinheiros que normalmente os clientes ruins começam a tratar os prestadores de serviço como trouxas ou banco… ou os dois.

Por que isso aumenta seu custo?

Porque não pagar em dia compromete o fluxo de caixa dos seus prestadores de serviço, que também precisam pagar outras empresas, o que compromete os ganhos previstos e a confiança deles a seu respeito.

E isso não vai sair de graça, as empresas do Comércio Exterior não são ONG de caridade para cobrir prejuízos causados por clientes.

Sugestão.

É preferível negociar prazos e formas de pagamento do que prometer uma data maravilhosa e não cumpri-la, sem contar que existem diversos benefícios em ser um bom pagador na importação.

Conclusão: bons clientes são previsíveis.

Quando um cliente é previsível, podemos confiar na sua cadeia de suprimentos, sabemos que ele vai ligar somente quando necessário, que pagará conforme acordado, que, se o serviço não estiver bom, ele vai dizer o quanto antes e, quando estiver muito bom, lembrará de elogiar também.

Um Comex com clientes assim é quase uma utopia, mas existem.

E estes são diferentes dos clientes filhos-do-caos, cuja única previsibilidade que nos dão é a de que sofreremos constantemente de azia, ansiedade e ranço

E você, amiga(o)?

Gostaria que seus clientes lessem essas dicas? Você tem mais clientes previsíveis ou mais filhos-do-caos? Que outras dicas podemos mencionar? Compartilhe comigo e com os demais nos comentários!


Desde 2007 atuando no comércio exterior e importação, decidi aliar meu amor pela escrita para ensinar e discutir sobre essa carreira que tanto aprecio, mas de forma simples e bem humorada.

Pois a leitura não precisa ser um fardo para ensinar.

E o que começou como hobby, me rendeu a oportunidade de escrever e palestrar para empresas do ramo como: Gett, Conexos, Allog, Cheap2ship, Mainô, Cronos, DC Logistics, Amtrans, Interfreight, Logcomex, Grupo Trust, Dati, Conexo, Inova Despachos, entre outras.

O hobby virou 2º emprego e hoje é o 1º, pois além de textos, palestras e consultorias, iniciei um podcast chamado Invoice Cast e no final desse mesmo ano, fundei com mais dois amigos uma agência focada em Comércio Exterior, a Invoice Content.

Tá afim de trocar uma ideia comigo? Me chama aí!

Como encarar os difíceis dilemas no comércio exterior, em casos fortuitos ou de força maior?

Espere! Não fuja! Não vou falar do ocorrido no Canal de Suez.

Hoje quero conversar sobre as difíceis escolhas que precisamos tomar em situações desta magnitude (que quase sempre se enquadram em casos fortuitos ou de força maior) ou, no mínimo, precisamos aconselhar nossos clientes no Comércio Exterior a respeito.

São dilemas difíceis pois, mesmo com experiência, somente o futuro vai dizer se a melhor (ou “menos pior”) decisão foi tomada.

E é preciso saber viver com ela.

O que são casos fortuitos ou de força maior no comércio exterior?

Antes de deliberar sobre o tema, vamos ao conceito de cada um deles de acordo com a lei.

De acordo com o Parágrafo Único do Art. 393 do Código Civil, estes são os casos “cujos efeitos não era possível evitar ou impedir” e a diferença entre ambos, de acordo com a doutrina do TJDFT é:

  • Casos Fortuitos – É o evento que não se pode prever e que não podemos evitar.
  • Força Maior – Os fatos humanos ou naturais, que podem até ser previstos, mas da mesma maneira não podem ser impedidos.

Tal como uma greve iniciada por servidores de um órgão público, que têm respaldo em lei para fazê-lo (Força Maior)

Ou uma tempestade de areia forte o bastante para encalhar uma embarcação no Canal de Suez, provavelmente causada pela Deusa Egípcia da fertilidade, da natureza e das águas (Caso Fortuito).

Se uma situação como a do Canal de Suez lhe afeta e você é religioso, adicione Isis em suas orações (junto do Santo Expedito).

Mal não faz, né?

Por que é difícil decidir nesses casos?

É difícil pois será necessário decidir com pouca ou nenhuma informação, como quando lemos que o fim da greve ou desencalhe vai levar de 3 a 30 dias.

Similar a quando”especialistas” dizem que a tendência do dólar para daqui 3 meses é de alta ou queda…

Mesmo que a situação contemple ressarcimento de seu seguro, o segundo motivo pelo qual é difícil decidir é que, independentemente da decisão tomada, ela vai causar prejuízos.

De modo geral, casos fortuitos ou de força maior costumam nos limitar a duas opções:

Esperar.

Se você acredita que a situação vai se resolver antes dela causar problemas e prejuízos relevantes, então a decisão será esperar.

Esperar, nesse caso, não significa “não fazer nada”, é possível minimizar os custos de uma greve, por exemplo, ao transferir a mercadoria para um terminal alfandegado com armazenagem mais barata, enquanto compra o mesmo produto nacionalmente ou renegocia os prazos que dependem dessa mercadoria.

Ou segurar o embarque marítimo da mercadoria (para que ela não entre ainda na fila das embarcações que esperavam a Ever Given desencalhar) para que assim possa estudar outras opções de frete internacional.

A verdade é que, dependendo da situação e do poder financeiro do importador/exportador, esperar será a única opção.

Mas se não for o caso a segunda opção é:

Resolver de forma onerosa.

Se a chegada da mercadoria ao destino final é necessária e não há mais tempo para esperar, então é preciso resolver já.

Contudo, isso dificilmente sairá de graça.

Uma mercadoria parametrizada em Canal Amarelo durante uma greve, por exemplo, pode ser solucionada com um Mandado de Segurança, mas dependo do valor da importação, pode sair mais caro que a armazenagem do primeiro período.

Se tiver mercadoria na Ásia e não quiser esperar o Canal de Suez reabrir para entregar a mercadoria na Europa, é possível transportar por ferrovia (arriscado e mais caro) ou ar (seguro, porém, muito caro).

Esperar um pouco, se nada mudar, resolver de forma onerosa.

Essa é normalmente a opção mais realizada na prática, não porque o risco é devidamente calculado, mas por não sabermos inicialmente o tamanho da bucha do problema que o processo se meteu.

E, nesse segundo caso, o importador/exportador (e demais empresas do Comex) acabam passando pelos estágios do Modelo de Sofrimento de Kübler-Ross, mais ou menos assim:

  1. Negação: “Não deve ser tão difícil assim reflutuar uma embarcação, amanhã tá tudo de volta ao normal.”
  2. Raiva: “Por que só com as minhas cargas? Não é justo!”
  3. Negociação: “Ísis, Santo Expedito, por favor, ouçam minhas preces!”
  4. Depressão: “Por que eu não fui estudar medicina?”
  5. Aceitação: “Tá… Embarca a próxima entrega por avião, não dá para esperar mais.”

Tome uma decisão.

Limitei a decisão a duas opções, mas os planos de ação dentro delas são diversos e variam conforme a mercadoria e a situação. Pois o problema é ter condições financeiras de tomar uma decisão, mas preferir patinar nos estágios 1 até 5.

Similar a um investidor que não se conforma que as ações compradas, estão em queda.

Convenhamos, se você se limitar a ficar na torcida/oração/revolta/reclamação no Twitter, deixará a solução a cargo de quem não está preocupado contigo.

Podem até desejar que a greve termine logo e que o navio desencalhe o quanto antes, mas o foco será sempre, em primeiro lugar, nos interesses próprios.

Depois que o plano de ação for executado, não se martirize.

O plano de ação executado tem como objetivo conter prejuízos maiores, ou seja, não há praticamente qualquer chance de isso sair mais barato que antes da bucha do problema acontecer.

Se você impetrou um Mandado de Segurança e ele foi favorável e liberou sua carga no mesmo dia que a greve acabou (já aconteceu comigo) ou se sua carga embarcou no avião poucas horas antes do Canal de Suez ser liberado: paciência!

Sei que financeiramente é ruim, mas o foco do papo não é esse, você buscou a melhor decisão com as informações que tinha e com sua experiência em buchas passadas.

Ficar dizendo para si (ou pior, para os outros) o que devia ter sido feito depois que o problema acabou, é igual programa que opina sobre partida de futebol: muito fácil dar pitaco sobre o passado.

E você, amiga(o)?

Qual sua opinião sobre o tema? Quais são os dilemas mais comuns que precisa enfrentar no Comércio Exterior? As experiências passadas ajudam? Teve alguma mercadoria afetada pelo bloqueio do Canal de Suez? Vamos continuar a conversa nos comentários 🙂


Desde 2007 atuando no comércio exterior e importação, decidi aliar meu amor pela escrita para ensinar e discutir sobre essa carreira que tanto aprecio, mas de forma simples e bem humorada.

Pois a leitura não precisa ser um fardo para ensinar.

E o que começou como hobby, me rendeu a oportunidade de escrever e palestrar para empresas do ramo como: Gett, Conexos, Allog, Cheap2ship, Mainô, Cronos, DC Logistics, Amtrans, Interfreight, Logcomex, Grupo Trust, Dati, Conexo, Inova Despachos, entre outras.

O hobby virou 2º emprego e hoje é o 1º, pois além de textos, palestras e consultorias, iniciei um podcast chamado Invoice Cast e no final desse mesmo ano, fundei com mais dois amigos uma agência focada em Comércio Exterior, a Invoice Content.

Tá afim de trocar uma ideia comigo? Me chama aí!

Não espere um setor de compliance, para começar a cuidar do seu.

O Comércio Exterior é cruel com quem perde prazos, pois isso normalmente resulta em custos extras na operação, perda de embarque ou até perda de cliente.

E, para que consigamos realizar tudo em tempo, costumamos fazer diversos sacrifícios como: almoçar em 10 minutos, trabalhar até tarde e não dar a mínima para o seu Compliance.

“Meu trabalho é cotar frete internacional, realizar a operação, bater metas de vendas, registrar as DI no dia da presença de carga, compliance não é problema meu”.

Terceirizar a responsabilidade é o caminho mais fácil para essa situação, contudo, é questão de tempo até você ser apontado como o culpado de alguma treta.

Veja o Compliance como a construção de um Escudo que vai lhe proteger nos momentos que lhe atacarem (vulgo: botarem no teu), pois o culpado no Comércio Exterior não é sempre o responsável mas sim, aquele que não tinha um Escudo para se proteger.

O que é Compliance?

Numa tradução literal, significa Conformidade, livremente entendido no meio profissional como “estar em conformidade”.

Então, quando uma empresa informar que trabalha conforme seu próprio programa de Compliance, ela quer dizer que existem regras e trâmites internos padronizados, que também respeitam a legislação em vigor sobre aquele assunto.

Sabe quando você trabalhou ou contratou uma empresa que te fazia pensar seguidamente:

  • “Não faço ideia de quem é o responsável por isso…”
  • “Vai desse jeito mesmo?”
  • “Como assim o documento tá salvo no Outlook?”

Esses são sentimentos causados por falta de Compliance… ou o básico dele, que é a boa e velha organização e estrutura de procedimentos.

E sabemos a que nível de M as 3 frases acima podem evoluir numa Importação ou Exportação…

Como começar seu Compliance no Comércio Exterior.

O “como” será visto abaixo, mas o mais importante é que ele precisa começar protegendo VOCÊ pessoa física.

Primeiro porque, se você já tem tempo de casa, sabe com funciona seu trabalho e, segundo, está ciente quais são os trâmites com maior sensibilidade no gerenciamento de risco (vulgo: aquilo que você faz e que ‘dar M’ é rotina).

Dessa forma, seu Escudo começará grande o bastante para proteger você, para depois proteger seu setor.

Se você sabe que desenho é esse, condene sua idade me falando nos comentários 🙂

Sabe o nome desse desenho? Me fala nos comentários (se não se importar de condenar a idade :P)

Algumas das sugestões podem parecer bem óbvias para os calejados da área, entretanto, testemunhei empresas com mais de 10 anos e/ou 50 funcionários falharem nelas, logo, o óbvio precisa ser dito.

Crie procedimentos.

Criar procedimentos significa formalizar em um documento como você realiza seu trabalho. Isso inclui, por exemplo, um passo-a-passo dos trâmites e a definição requisitos para que uma etapa esteja em conformidade para evoluir à seguinte.

Para começar, não é preciso criar um gigante procedimento explicando tudo o que você faz, nem recomendo, pois você acabará desistindo.

Comece com o que é mais suscetível de dar M erro, como um procedimento para solicitar cotação de frete internacional, por exemplo:

  1. Selecionar quatro Agentes de Carga (com cadastro aprovado para nos atender);
  2. Enviar solicitação de cotação aos quatro, ao mesmo tempo, usando o mesmo arquivo, com as mesmas informações e prazo de resposta;
  3. Se duas ou mais das melhores cotações tiverem uma diferença menor que 10%, solicitar desconto;
  4. Fechar com a melhor proposta e enviar a Instrução de Embarque;
  5. Enviar feedback aos Agentes de Carga não escolhidos.

O exemplo é simples pois não é momento de ir a fundo nisso, mas pelo o que converso com meus amigos do agenciamento de carga, não são poucos os clientes que nem isso fazem :/

É evidente que o procedimento será respeitado contanto que seja estável e não sofra contínuas alterações, o que é diferente de adições: naturalmente ele será aprimorado ao longo do tempo, pois mesmo com muita experiência prática é impossível pensarmos de primeira em todos os trâmites e exceções.

Formalize as comunicações.

Por mais que você seja íntegro e/ou competente, se você não tiver registro do que foi conversado, isso será usado contra você no momento que for investigado quem é o responsável por algum eventual prejuízo.

Um simples e-mail que começa dizendo “Conforme conversamos agora por telefone, fica definido…” basta para fortalecer o seu Escudo.

E caso o trabalho envolva parentes e amigos, digo por experiência própria que a necessidade de formalização é dobrada, pois há grandes chances de, no caso de um conflito, resultar no fim de uma amizade.

Padronize o armazenamento de documentos.

Photo by C Dustin on Unsplash

Não adianta formalizar as comunicações por e-mail, se quando precisar do bendito, não conseguir encontrar. Pois ele vai ser necessário provavelmente daqui:

  • Um mês, quando a carga chegar no porto de destino;
  • Um ano, quando sua auditoria interna perguntar por que você contratou o segundo frete internacional mais barato, ou;
  • Daqui 4 anos, 11 meses e 15 dias, quando a RFB na Revisão Aduaneira, perguntar onde está a Commercial Invoice assinada, daquele exportador que nem existe mais porque faliu em 2020 por causa da pandemia.

Mesmo que não tenha um sistema para gerenciar seu comércio exterior, basta salvar os documentos na nuvem, respeitando a padronização de pastas e nomeação, junto do que foi comunicado por e-mail e fazendo assim que o processo for finalizado.

Porque, se deixar para depois, só será feito num dos momentos exemplificados acima.

Envolva superiores e demais envolvido nas situações extraordinárias.

Os procedimentos inicialmente criados começam na premissa de que tudo vai acontecer sem surpresas e urgências, naquele cenário ideal que não existe no Comércio Exterior.

Seguindo o exemplo anterior, digamos que uma peça de maquinário quebrou e é preciso urgentemente buscar uma nova na fábrica.

Até o momento, você só tem 2 das 4 cotações de frete internacional necessárias, se aguardar mais, a peça não chegará a tempo.

Este é um simples (e corriqueiro) caso em que o Compliance entra em conflito com uma relevante necessidade e, quando isso ocorre, é importante ter o aval de superiores e outros setores para, extraordinariamente, seguir com o embarque mediante 2 cotações apenas.

É ‘CA-LA-RO’ que o extraordinário não pode virar rotina 😉

Seu Compliance é para você, mas ele vai também proteger outros.

Se numa situação conflituosa que lhe envolve, junto de mais 3 partes, você for o único que tem como provar o ocorrido e, consequentemente, o responsável, isso resultará em uma das partes pistola responsabilizada e outras duas eternamente gratas contigo, pois durante o conflito não passava nem Wi-Fi tinham material para se defender.

E isso demonstra segurança e seriedade de sua parte, que vai refletir positivamente até mesmo no seu networking.

Provavelmente estas situações inspirem outros a cuidarem do próprio Compliance, seja porque viram a importância com seu exemplo, ou porque se ferraram bonito.

Mas a verdade é que a maioria vai se acostumar a pedir tudo a você, inclusive prestadores de serviço, prepare-se para dizer não.

Compliance é um Escudo, não uma Muralha.

Se não existir um mínimo de procedimentos, provavelmente seus trâmites até ocorram de forma eficaz, mas com sérios prejuízos financeiros e de integridade.

Por outro lado, se o Compliance for desenvolvido de maneira leviana, ele será intransponível de tão engessado, a ponto de tornar seu trabalho mais moroso e custoso – sem mencionar como é chato demais trabalhar com empresas assim.

Logo, Compliance exige equilíbrio entre Proteção e Eficácia.

Ao desenvolver o seu Compliance, entenda que você consegue caminhar com um Escudo na mão, mas uma muralha não lhe permite avançar.

Soldado morto não precisa de Escudo.

Você não precisa de um setor de Compliance ou uma controladoria pegando no seu pé para se preocupar consigo mesmo.

Há momentos conflitantes que vão “apenas” lhe causar uma azia, mas não são raros os momentos, em nossa área, em que se discute quem é o responsável pelo prejú de 20 mil reais.

E isso costuma atingir a parte mais fraca, normalmente o prestador de serviço, a pessoa nova na empresa ou aquela que ninguém suporta mais e a diretoria tá só esperando um motivo para mandar embora, mesmo que não seja por justa causa.

Ademais, dependendo da gravidade do assunto que lhe atingiu, isso pode lhe queimar permanentemente no mercado.

Nesse caso, será tarde demais para produzir um Escudo para chamar de seu.

E você, amiga(o)?

Acha o assunto importante? Tem um setor de Compliance ou controladoria na sua empresa? Como costuma organizar seus procedimentos e documentos? Já se incomodou com a falta deles (de sua parte ou de outro envolvido)? Conto contigo nos comentários!

Sua “curtidinha” e comentário me ajudam a saber o que gostam de ler, ajuda aí 🙂

7 aprendizados no ano em que larguei meu emprego para empreender.

Relaxa, não vou vender Master Class no final.

Foi em 2020 que deixei de ser colaborador para empreender e, como esse ano foi maravilhoso e desgraçado, preciso refletir e externar isso de alguma forma para fixar os aprendizados e ser uma fonte de consulta para mim mesmo, no futuro.

Não estou lhe desconvidando da leitura, mas entenda que isso se resume às minhas experiências no cenário em que estou inserido, logo, sinta-se livre para absorver somente o que lhe for útil.

A vida não está nem aí para o seu planejamento.

Ter lido esse texto do professor Matheus de Souza em 2019 me preparou melhor para essa verdade.

Mas… pqp hein! Na prática é outra história.

Mais da metade dos meus projetos e dos “bizniz” que foram fechados no final de 2019, que me deram coragem para pedir demissão em janeiro de 2020, morreram assim que o Covidão chegou ao Brasil.

Claro que eu não havia jogado tudo para cima ao pedir demissão, fiz isso com planejamento, reserva financeira, e apoio da esposa e da família, o que foi primordial para analisar a situação de m&#$* na qual eu estava e rever meus planos.

A Importação me endureceu e ensinou a esperar pelo pior cenário, pois foi exatamente o que aconteceu.

Contudo, nem isso bastou.

Não sou tão forte como imaginava e nem quero ser.

Com a chegada da pandemia e a perda de algumas fontes de renda que me obrigaram a utilizar a reserva financeira, externei excessivamente minha frustração no iFood, videogames e bebidas alcoólicas.

Resultado: 5Kg em menos de 40 dias, engordei praticamente um Romeu (o de gravata).

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Além disso, vieram ao longo do ano os primeiros perrengues da glamurosa vida empreendedora (#sarcasmo): burocracia para abrir empresa, calote, plágios, clientes sanguessugas…

Como disse, achava que a vida na Importação tinha me endurecido o suficiente para não me abalar tanto, mas estava bem enganado, todas essas situações me causaram estresse, dor e diversos outros sintomas que me levaram às lágrimas de raiva e de frustração algumas vezes.

Sim, eu choro, fico puto, tenho vontade de desistir, mas aí desabafo, me acalmo, coloco as ideias no lugar e continuo.

Existe a hora de ficar puto e a hora de acreditar que vai dar certo, essa história de sempre ter #positividade é um veneno.

Sou muito privilegiado.

Mesmo depois de tanta sofrência, a verdade é que me encontro numa situação tranquilíssima para empreender, quando comparado a muita gente.

Tenho reserva financeira, esposa que trabalha, pais com confortável aposentadoria e prontos para me ajudar… Se precisar voltar a trabalhar como CLT (algo com o que não teria problema), acredito que conseguiria em pouco tempo uma posição que pagasse as contas.

Portanto, o que é a minha situação se comparada às inúmeras pessoas que vieram no privado me pedir ajuda ou dicas para conseguir o primeiro emprego? Ou que estão há mais de um ano desempregadas, com filhos para criar, aluguel para pagar?…

Sem contar o choque de realidade que experencio quando posso participar de ações sociais…

Isso não desmerece o meu esforço, cada um batalha com o que tem, mas é importante que reservemos um tempo para ajudar quem não teve a mesma sorte.

Sério, tem gente que só precisa de dicas para melhorar o currículo, ou tirar uma dúvida, ou até mesmo desabafar sobre como tá foda.

Dividir uma parte dos meus privilégios com quem precisa foi primordial para aguentar esse ano.

Não se preocupar em agradar a todos é libertador e necessário.

A partir do momento que você, ou seu trabalho, tem personalidade e posicionamento, você vai atrair mais pessoas e desagradar outras na mesma ou maior proporção.

Agora, se você tentar agradar todo mundo, seu trabalho será, na melhor das hipóteses, mediano.

E o ordinário é o primeiro a ser esquecido.

Porém, não se preocupar em agradar a todos não significar ser um cavalo de rude, é difícil (sei bem), mas é possível ser autêntico sem perder a cortesia.

Seja postando a foto de natal com a família ou iniciando uma página no Insta sobre o assunto que gosta, vai ter gente julgando para o bem ou mal.

Você julga, eu julgo, normal, é o custo de se expor.

Não inicie outro projeto enquanto o atual não estiver sólido.

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Photo by Nicolas Hoizey on Unsplash

Esse foi o ano de dizer muitos “nãos”.

Isso foi reflexo do meu “trabalho com personalidade” que começou lá em 2018, nunca na minha vida recebi tantos convites para projetos, porém a maioria deles sem pé nem cabeça.

Alguns foram honestos e só careciam de estrutura, outros tentaram se aproveitar de mim (é, teve de tudo). Independente disso, precisei negá-los para focar naquilo que tinha me comprometido.

Como minha produção de artigos estava acontecendo com solidez e qualidade, pude começar 2 novos projetos que levo a sério desde janeiro.

  1. Podcast
  2. Instagram*

*Especialmente em fazer vídeos para os stories, se você viu os primeiros, vish…

Já tenho ideia do que quero desenvolver depois que estes dois estiverem dominados, mas há ainda muito para melhorar neles em 2021.

Se você tentar abraçar todas as oportunidades que lhe aparecerem, poucas vão se realizar com qualidade.

Seus valores estão nas suas ações, não na parte institucional da empresa.

Lembra que falei sobre não se preocupar em agradar a todos? Esse é mais um benefício.

Nunca me preocupei em definir meus valores no meu site, por exemplo, talvez por consequência do ranço que tenho da hipocrisia das empresas de Comex.

Tal qual empresas de Comex que, de um lado, se exibem com projetos sociais e, de outro, ficam inventando e cobrando custos inexistentes dos clientes.

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Curiosamente, essa hipocrisia foi um dos motivos que me motivou a escrever.

A recorrência de externar seu trabalho com personalidade vai naturalmente mostrar todas as suas virtudes… e até os defeitos, por que não? Alguns deles consegui corrigir (ou, pelo menos, amenizar), graças à escrita.

Quem insiste que a vida empreendedora é onde está o sucesso, quer te vender curso.

Nossa, me senti o bichão do sucesso mesmo emitindo NF, pagando boleto, cobrando caloteiro, mandando plagiador tirar conteúdo meu do ar…. #SQN

A vida toda no CLT, claro que eu ia me ferrar migrando para o CNPJ.

Ok, me dei muito bem no “home office”, curto a liberdade, mas é foda se motivar sozinho, tanto que para me ajudar nessa motivação deixo bem na minha vista, abaixo do meu monitor, os boletos a vencer.

“Ain Jonas, mas o sucesso da vida empreendedora é infinito!”

Sabe o que mais é infinito? O fracasso!

E dá, sim, para ter sucesso infinito como CLT também, tenho amigos e conhecidos que nem preciso perguntar quanto ganham para saber que estão “muito bem, obrigado”.

Se isso significa sucesso para você, o meu conceito disso não para de mudar… Tô curtindo a vida empreendedora, mas é um investimento a longo prazo, não adianta, a cada escolha, uma perda.

E você amiga(o)?

Sou muito grato de ter pessoas que genuinamente torcem para que eu cresça sem limites, se você é uma delas, obrigado, mesmo! Se quiser, fique à vontade para compartilhar nos comentários o que conseguiu aprender, seja num ano terrível como esse, ou no ano em que começou a empreender.

Também aceito conselhos, tenho muito a aprender!

Meus conselhos aos iniciantes no comércio exterior, parte 3

Depois de muitos pedidos (mentira, isso é papo de quem se paga de importante), volto com minha série anual preferida dentro do Comércio Exterior.

As partes 1 e 2 foram banhos de água fria e direcionamentos básicos para a carreira, contudo nessa parte 3 vou deixar alguns conselhos, que acredito servirem para iniciantes, quanto experientes, no que tange as três características que acredito serem as mais importantes dentro e fora da vida profissional:

  • sua saúde;
  • suas virtudes (soft skills); e
  • sua credibilidade.

Sua saúde vem antes do trabalho.

Seja para crescer na vida ou para manter o emprego atual, você vai ter que ralar, principalmente se não deu a sorte nos privilégios.

“O sol nasce pra todos, mas a sombra é pra poucos”.

Você Diz Que O Amor Não Dói – Marcelo D2.

E ralar no Comércio Exterior normalmente envolve precisar trabalhar até tarde, acordar cedo ou no meio da madrugada.

Sem mencionar o volume surreal de trabalho.

Nem vou adentrar na questão trabalhista, se está certo ou errado, mas entenda que grande parte do nosso trabalho baseia-se na necessidade da pessoa que está em outro país receber a informação em tempo, pois quando não atendemos prazos perdemos embarques, documentos não chegam a tempo e/ou custos de armazenagem disparam.

Todo o trabalho tem imprevistos que demandam um esforço a mais, o problema é quando dormir pouco e viver sobrecarregado vira rotina, eventualmente o corpo dará sinais de esgotamento através de:

  • gastrite;
  • gripe;
  • dor de cabeça, no corpo; ou
  • perda de cabelo.

Estes são exemplos, a forma que o seu cansaço vai se manifestar são variadas e depende de pessoa para pessoa; no meu caso, foi o vitiligo, em virtude de eu insistir em sacrificar minha saúde e me entupir de remédios para tratar os sintomas leves.

A consequência, para mim, foi sobretudo estética, afetou apenas a pigmentação da minha barba, cílios e sobrancelha no lado esquerdo; após mais de um ano de tratamento consegui reduzir a sequela, mas não há cura completa (passa Grecin).

Porém existem aqueles casos de pessoas que evoluem para uma Síndrome de Burnout, ataques cardíacos e derrames cerebrais… e são pessoas cada vez mais jovens.

Nenhum trabalho é mais importante que a sua saúde.

Saiba dizer NÃO!

Não importa se é chefe, cliente ou colega de trabalho (sobretudo nas empresas que não definem por escrito as responsabilidades), se você deu a mão, vão tentar levar o braço junto.

Vão te contratar para Compras Internacionais e, ao passo que lhe entregam “só mais uma coisinha” para fazer, você terá se tornado responsável por:

  • classificar a mercadoria;
  • coordenar a importação;
  • acelerar navios #CDD;
  • fechar câmbio;
  • contratar transportadora…

E assim segue recebendo cada vez mais pepinos responsabilidades por meses ou anos, enquanto te enrolam no cargo de Auxiliar de Compras Internacionais.

“Aumento? Hum, mês que vem a gente conversa, prometo!”

Por isso é importante que sua gentileza (ou politicagem, não há nada de errado nisso) não faça com que você seja visto como o trouxa bonzinho que faz tudo, quebrar um galho, não pode te tornar o responsável por todos os galhos.

Contudo, há momentos que podemos dizer NÃO de forma construtiva.

Não é porque você tem dificuldade de dizer “não” que vai começar causando discórdia, no melhor estilo Rochelle Chris dizendo “não preciso disso, meu marido tem dois empregos”.

Ao invés de responder assim > Tente dessa forma:

  • Isso não é minha responsabilidade > Creio que isso cabe ao fiscal verificar.
  • Não tenho tempo agora > Podemos ver isso depois do almoço?
  • Não vou dar conta no prazo > Preciso de ajuda para dar conta disso no prazo.

A verdade é que “nãos” sempre podem causar atritos, contudo, ao adotar uma resposta construtiva ela criará um caminho para resolver a situação, sem que pareça (tanto) que você é o chatão que só sabe dizer não.

Aponte menos o dedo e resolva mais.

Certamente esse é um dos maiores males do Comércio Exterior, e não é de se espantar, são tantas pessoas e empresas envolvidas nas operações que basta uma vacilar para causar prejuízos ao cliente ou aos outros envolvidos.

E acredito que os clientes são os principais responsáveis por essa cultura das empresas de Comércio Exterior de querer “tirar logo o meu da reta”, o mais rápido possível, pois fui por muitos anos o “importador cliente” que ajudou a cultivar isso, até que um dia um prestador de serviço me disse o óbvio:

“Vamos focar em resolver o problema, depois vemos o que aconteceu”

Existe uma máxima no Comércio Exterior que diz “se um processo começa errado, ele vai acabar errado”, e isso faz todo o sentido! Processos que começam com um erro ou sofrem problemas em seu percurso, deixa não apenas o causador dele tenso, mas todos os demais envolvidos que ficam preocupados em não piorar a situação.

E, consequentemente dessa tensão, as chances de errar aumentam.

Não precisa vir com #positividade e dizer que “vai dar tudo certo” (raramente é possível recuperar o tempo perdido), contudo, você pode ser a pessoa que resolve o problema e, depois que o processo estiver finalizado, analise o que aconteceu e levante os prejuízos.

Hoje foi outra pessoa quem causou prejuízos, amanhã pode ser você sem emprego fazendo uma entrevista para a mesma vaga com esse outro.

O mundo não dá voltas, ele capota.

Você vai se tornar importante através das Soft Skills.

Antes de mais nada, entenda que ninguém é indispensável, lembro de ter ouvido isso quatro vezes de pessoas que eu julgava serem indispensáveis.

Como jovem e teimoso que era demorei para aceitar essa verdade, mas hoje, quando penso como essas pessoas foram importantes no meu crescimento profissional, lembro de suas virtudes, ou como a turma do LinkedIn adora, suas Soft Skills.

Lembro como se comunicavam com transparência, trabalhavam em equipe com outros setores, identificavam e questionavam rotinas que podiam ser melhoradas, se adaptavam às novidades, assumiam a responsabilidade (principalmente quando era de um subordinado seu).

Isso não significa que estudar não é importante, mas prefiro trabalhar com uma pessoa virtuosa que carece de conhecimento/experiência, do que com um mega diplomado que consegue causar ranço até por e-mail.

Convenhamos, é muito mais fácil um inexperiente aprender um ofício do que uma pessoa insuportável ter aceitação social.

Se você se deparar com indícios de corrupção e não tiver a capacidade para mudar esse fato, caia fora o quanto antes.

Basta você trabalhar no Comércio Exterior que eventualmente você irá presenciar situações, no mínimo, “”””esquisitas”””.

Fui claro com a quantidade de aspas, ?

Inegavelmente que esse é um assunto delicado então vou utilizar o exemplo mais clássico:

Existem diversas empresas atuantes no Comércio Exterior que insistem em trabalhar, por anos a fio, com apenas um único prestador de serviço.

Há casos em que faz sentido, há outros em que a pessoa é burra acomodada e gosta de queimar dinheiro, e outros ainda que a coisa está esquisita demais.

E como todo bom profissional, não apenas de Comércio Exterior, cabe a nós questionar o que está errado.

Entretanto, se depois de questionar e mostrar em números que algo não está certo, mesmo assim você foi ignorado ou recebeu como resposta um “não se preocupa com isso” ou “tem que analisar a parceria”, essa é a hora de procurar outro lugar para trabalhar.

E, sim, sei que você tem que comer e pagar as contas, mas tente sair daí o quanto antes, porque, se quem está no centro dessa ”esquizitisse” trabalha próximo a você:

essa fama vai te acompanhar no mercado e, pior, pode até ser demitido com quem ‘tava de sacanagem, porque na dúvida, é melhor mandar embora todo mundo junto.

***

Como nos textos anteriores, esses conselhos são de coração, baseados no que já vivenciei, assim como no que pessoas da área, com menos ou muito mais anos de mercado que eu, me confidenciaram.

Estou ciente que eles não se aplicam a todos e que é possível levantar diversas exceções a cada um, enfim, como disse Bruce-Lee, “tome o que lhe for útil e desenvolva”.

E você, amiga(o)?

Concorda com os meus conselhos? Quer acrescentar algo? Quer discordar? Fica à vontade! Mas vamos manter o respeito 🙂

Se preferir desabafar comigo no particular (e-mail, mensagem privada), sinta-se à vontade também, sempre respondo a todos (exceto os que mandam mensagens prontas vendendo algo que não pedi… esses eu bloqueio com mais eficiência que a seleção brasileira de vôlei).

Se preferir uma mentoria profissional para sua carreira ou empresa de Comércio Exterior, me chama! O primeiro papo é gratuito.

Certificação GPTW, por que precisamos nos preocupar com o ambiente de trabalho?

Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de trabalhar numa empresa com certificação GPTW.

Por outro lado, fez parte da minha carreira ser demitido de uma empresa que eu amava trabalhar e que estava passando por uma crise, bem como pedi demissão de outra que foi responsável por me fazer chorar ao menos uma vez por semana, por uns bons meses.

E poucos anos no mercado de trabalho são suficientes para sabermos que situações desse tipo são comuns.

Nesse texto, explicaremos o que é o GPTW, mostraremos que um bom ambiente de trabalho não diz respeito apenas a estrutura, que a certificação não é coisa de empresa grande e que, não é frescura se preocupar com os sentimentos de quem passa o dia contigo.

O que é GPTW?

GPTW é a sigla do inglês para Great Place To Work que, numa tradução brasileira bem sulista seria “Um baita lugar para trampar”.

Trata-se de uma empresa espalhada ao redor do globo que tem como propósito melhorar os resultados de seus clientes a partir da melhoria do ambiente de trabalho.

Partindo do pressuposto que, lógico, você já entendeu que não há nada mais importante na sua empresa que as pessoas 🙂

Este trabalho é realizado através de consultoria que, inicialmente avaliará o ambiente de trabalho através de entrevistas e pesquisas com os colaboradores.

Com base nas respostas obtidas (anonimamente!), com base nas dimensões e práticas culturais da GPTW e com o suporte da consultoria, você saberá o que é preciso melhorar e o plano de ação para que, na próxima avaliação, tenha resultados melhores.

Dimensões e práticas Culturais - GPTW

Considerando que realize este plano com sucesso, sua nota subirá nas futuras avaliações até o patamar de receber a certificação GPTW.

O que significa uma empresa ser GPTW?

Da mesma forma que produtos possuem Certificado de Análise, certificações como ISO e OEA, é preciso que um terceiro com credibilidade e isento de interesse faça essa avaliação.

Ou nossos pais nos responderam com sinceridade a primeira vez que perguntamos sobre nossa beleza?

“É sim, Jonas, eles riem de você por inveja”

Dona Idile Vieira, Xanxerê, SC – 1996.

A empresa que possui a certificação GPTW mostra ao mercado que ela tem um ambiente de trabalho aprovado pelos próprios colaboradores.

E não se trata de engessar a cultura, estilo, branding e blablabla num modelo aprovado, tampouco há nota maior para empresas razão de seu porte, faturamento ou que possuam uma sala de lazer com mesa de sinuca, escorregador e um panda para abraçar.

A qualidade da estrutura é importante, porém, o que conta de verdade na avaliação são as ações, as práticas, as experiências, os momentos

Reflita por um instante! Os momentos mais importantes da sua vida são assim considerados por causa do local ou da experiência que você teve neles?

Quais os benefícios da Certificação GPTW?

GPTW

A depender do segmento da empresa e diversos outros fatores, os benefícios alcançados variam e o resultado vai depender de um acompanhamento sério dos números.

Mas não há o que se duvidar: melhorar o ambiente de trabalho tem sim retornos comerciais e financeiros, especialmente por tratar de aspectos que nem todos estão acostumados a se preocupar.

Atração e Retenção de Talentos.

É complicado, na prática, descobrir como é o clima de trabalho ou os benefícios (ainda que indiretos) de uma empresa que tenha interesse em trabalhar, afinal será preciso perguntar para alguém que está lá dentro e, a depender do nível de intimidade, não receberá uma resposta segura, ou resposta alguma.

Enfim, a certificação GPTW não significa que a empresa é perfeita para todos, mas o ajudará para que futuros colaboradores sintam-se mais seguros antes de pedir demissão do trabalho atual.

Consequentemente, irá atrair os melhores profissionais, porque os melhores, podem se dar ao luxo de serem mais exigentes*.

*Não é uma verdade absoluta, ok?

Mas de nada adianta atrair profissionais, se eles não ficarem. Sabe como o turnover é custoso, não só pela admissão e demissão, mas também pelo tempo despendido para que esse novo profissional venha render ao máximo.

Falando nisso…

Aumento do engajamento.

Um estudo da Gallup diz que apenas 27% dos colaboradores da América Latina se sentem engajados em seus trabalhos, ou seja, 73% não está dando seu máximo porque não se sente parte da empresa.

E quando digo “dar seu máximo” é por querer fazê-lo, não por “motivação” na base de metas e pressões que beiram o assédio.

Photo by Clark Tibbs on Unsplash

Quando o ambiente de trabalho favorece o engajamento, nos inspiramos a fazer mais e, naturalmente, essa ação vira exemplo que inspira colegas e até profissionais fora da empresa.

Segurança no serviço.

Como cliente, digo que não é preciso muita sensibilidade para notar a diferença na qualidade de serviço quando a pessoa ama o lugar que trabalha.

É outra a maneira de te ouvir, de conversar, de tentar resolver seu problema e até de admitir que tem algo errado, porque este profissional se sente seguro o bastante para admitir erros.

E, se for preciso eleger um sentimento para predominar nas minhas operações de Comércio Exterior, eu fico com a segurança. Se eu sinto segurança no serviço prestado (que se concretiza na execução), por que eu, cliente, vou pensar em ir atrás de outra empresa?

Economia financeira.

Photo by Michael Longmire on Unsplash

Os benefícios anteriormente mencionados possuem evidentes retornos financeiros, vamos então falar de salário… importantíssimo, não?

Então, não é bem assim… essa pesquisa mostra que os principais fatores de permanência de um colaborador em empresas com a certificação GPTW são “Oportunidade de Crescimento” e “Qualidade de Vida”.

Salário está em penúltimo, ao passo que vemos e passamos por situações como essa:

  • Um colaborador está insatisfeito;
  • Ele é importante para empresa, então recebe um aumento;
  • Ele usa a grana para lidar com seu problema do jeito errado: cerveja, pizza, vídeo game, viagens, baladinha top;
  • Os “remédios” aplicados não resolvem a insatisfação, que evoluindo para stress e/ou ansiedade…
  • O dinheiro do aumento começa ser usado agora para médicos e tratamentos.

Talvez esse aumento sequer fosse necessário, se antes a empresa tivesse realmente atendido algum anseio do seu colaborador, que de fato lhe desse maior qualidade de vida e que provavelmente custaria menos que o aumento.

São “experenciando” situações assim que começamos a entender que dinheiro não é tudo e buscamos outras oportunidades que realmente proporcionem essa qualidade de vida.

Como posso certificar minha empresa como GPTW?

Robert Levering – Fundador da GPTW.

Pode parecer suspeito ver essa frase do próprio fundador da GPTW, mas é real! Essa Certificação não é coisa apenas para Google, Nubank ou Netflix.

Expliquei anteriormente que o que conta mesmo são as ações, mas se preferir ver com seus próprios olhos (depois de ler esse texto até o final, ok?): acesse o site e clique em “Ranking”, ao aplicar os filtros verá que há empresas de todos os portes e setores, e bem provável que alguma se pareça com a sua.

Para conseguir a Certificação GPTW comece entrando em contato com eles na seção “Jornada”, é uma conversa inicial sobre como eles podem te ajudar.

Posteriormente, eles aplicarão uma pesquisa para que consigam identificar o que precisa ser melhorado em seu ambiente de trabalho.

A princípio, se sua nota for alta o bastante, receberá a Certificação, mas, se você julgar necessário, eles oferecem consultoria para lhe ajudar a melhorar sua nota na próxima avaliação.

Qual a diferença entre a Certificação e o Ranking?

Antes de mais nada, entenda que são coisas diferentes, a sua Certificação não depende da pontuação de outras empresas, a análise e evolução levará em conta apenas os seus dados.

O selo entregue não virá com uma nota ou Ranking.

Contudo, o resultado da pesquisa aplicada na sua empresa mostrará também como foi a pontuação comparada às melhores colocadas, que possuam perfil similar ao seu (sem citar nomes), apenas para lhe ajudar com mais conteúdo.

Enfim, o Ranking é uma competição, claro que ganhar o prêmio é satisfatório e vai fazer muito bem à sua imagem, mas o foco é evoluir consigo mesmo.

Cuide das pessoas.

Photo by Ali Yahya on Unsplash

Esse texto não é um “publieditorial” da GPTW, o objetivo aqui foi apresentar uma metodologia porque entendo ser importante tornar melhor o ambiente de trabalho no Comércio Exterior, pois o que acontece fora dele e em razão dele já estressa o bastante!

Ah, mas o Comex é assim mesmo!

Você pode acreditar nisso, ignorar o problema e seguir rindo dos memes, porém, saiba que há empresas atrás dessa mudança, que hoje ainda é um diferencial, mas amanhã será obrigação.

Não à toa que o meu texto A Sociedade do Cansaço está presente no Comércio Exterior foi um dos meus textos mais lidos e comentados no LinkedIn.

Tanto foi que conversei no podcast Radar Comex com os principais responsáveis pela Certificação nas empresas: Inova Despachos, Next Shipping e LogComex (você pode ouvir o episódio via Spotify, Deezer e diversos outros agregadores de podcast).

Radar Comex – GPTW e a criação de um ambiente de trabalho que amamos estar.

E você, amiga(o)?

Como é seu ambiente de trabalho (tendo ou não a certificação GPTW)? O que te faz querer continuar numa empresa ou o que te motivou a sair de algum lugar?

Conte-nos sua história nos comentários, isso é tão (ou até mais) importante quanto conhecer o Regulamento Aduaneiro 🙂

Esse artigo foi escrito para minhas amigas e amigos da Inova Despachos.

Quais experiências buscar num profissional para o setor de importação?

Sua empresa não tem o Comércio Exterior como atividade principal, mas o volume de importações cresceu a ponto de precisar de um setor de importação internamente, portanto, é preciso buscar o profissional com as experiências mais interessantes.

Digo interessantes, e não melhores, pois elas vão variar conforme os objetivos e trabalhos que serão absorvidos pelo setor e o próprio segmento da empresa.

As experiências recomendadas abaixo lhe ajudarão a definir o profissional de importação que sua empresa precisa, para que encontre a pessoa adequada e o setor comece agregando resultados positivos.

Experiência PRÁTICA com importação e despacho aduaneiro

Mesmo que o setor comece com apenas uma pessoa, o responsável por ele precisa de experiência prática no campo de batalha.

Quando seu importador convence o piloto de entregar a carga no seu armazém

E você não vai encontrar isso num profissional que tenha graduação e pós-graduação, mas nunca trabalhou e nunca fez uma importação acontecer.

O profissional com experiência precisa dominar, ou pelo menos ter relevante experiência em, atribuições como:

  • Passo-a-passo dos procedimentos para o despacho aduaneiro ocorrer com sucesso;
  • Análise de documentos, o que é preciso ou dispensado constar;
  • Funcionamento de sistemas como Siscomex, Portal Único, Mantra, Mercante;
  • Cotação de frete internacional;
  • Processo de vistoria de mercadoria em canal vermelho ou com órgãos anuentes; e
  • Negociação de valores com despachantes aduaneiros, portos, transportadoras.

Como disse, são exemplos, mas a pessoa que você busca precisa saber trabalhar com todos os envolvidos numa importação e saber como a operação funciona.

E, sim, ela tem que ter bons anos neste trabalho, porque a verdadeira experiência é aquela que quando você perguntar na entrevista:

“Me conte momentos marcantes que você passou nesse trabalho, pode ser de sucesso ou fracasso”. A pessoa não mostre apenas dados, mas histórias de quem viveu e manja do assunto.

Experiência com o(s) produto(s) a importar

Se alguém te dizer que qualquer Despachante Aduaneiro ou Agente de Carga serve para importar qualquer produto:

Essa pessoa não entende de comércio exterior, ignore o que ela diz sobre o assunto.

Produtos como alimentos, cosméticos e brinquedos têm o processo de Despacho Aduaneiro mais moroso, pois precisam da autorização de órgãos anuentes em todas as operações.

Diferente de maquinários e eletrônicos que costumam ter menos órgãos envolvidos, porém você pode precisar que seu profissional entenda de regimes aduaneiros como Admissão Temporária, Ex-Tarifário e Drawback.

Produtos do tipo perigoso (IMO), como carga química ou com pesos e dimensões que dificultem a logística de movimentação e transporte, exigirão experiência com logística nacional e internacional.

Também é essencial o conhecimento técnico dos produtos para traduzi-los e classifica-los fiscalmente, pois esse trabalho deve ser realizado em conjunto com o Despachante Aduaneiro.

Experiência em Compras

Extra.Globo

É uma extensão da experiência com o produto, pois não pode se limitar a conhecê-los apenas no que diz respeito à operação da importação: cada mercado tem suas particularidades para negociar e desenvolver fornecedores, conforme demanda, se o produto é básico ou manufaturado, de onde é comprado e como é o procedimento de compra.

Há manufaturados que a negociação leva meses e produtos básicos podem ser comprados via plataforma digital, mas seus preços mudam o tempo todo.

Mesmo que comprar os produtos não esteja no rol de tarefas do profissional buscado, a experiência dele ajudará seu setor de Compras a reduzir os custos considerando mais fatores além da qualidade e do preço dos fornecedores.

Pois, vale ressaltar, é um erro decidir de quem comprar comparando apenas estes dois aspectos, os custos da importação precisam ser adicionados na decisão.

Como os Incoterms, sabemos como importar com frete incluso (Prepaid) pode ser traiçoeiro ao considerar o país do fornecedor, sua localidade vai influenciar no custo do frete internacional e pode ser que, mesmo sendo mais caro, o Brasil tenha um acordo comercial que compense e reduza um ou mais impostos da importação.

Experiência com Inglês

Revista Veja, Joel Santana – Eu admiro a coragem e naturalidade dele para falar inglês.

Se quer um profissional para cuidar do setor de importação para que você possa se dedicar aos negócios de sua empresa, a experiência para se comunicar em Inglês será primordial.

Problemas no Comércio Exterior é o que não falta e jamais veremos de tudo, portanto, é preciso Inglês de qualidade para enviar e-mail sucintos e ser capaz de pegar o telefone quando precisar cobrar ou discutir algo fora da rotina.

Considere essa experiência como o 1º filtro para selecionar candidatos e não deixe de testar o Inglês com uma conversa durante a entrevista.

Sei por experiência própria como é difícil encontrar quem domine o Inglês e por isso digo para considerar esta habilidade antes das demais, pois é mais fácil desenvolver as outras qualidades do que aprender o Idioma.

Mas tenha bom senso, não adianta contratar alguém com Inglês fluente e zero experiência prática.

Negligenciando este quesito levará você (ou quem quer que fale Inglês dentro da sua empresa) a ter que se acostumar a ser interrompido para intervir nas importações quando ela sair da normalidade.

Comércio exterior é tranquilo, isso quase nunca acontece. #sarcasmo

Onde encontro esse profissional de importação?

Provável que ele esteja mais perto do que imagina.

Talvez esse profissional já te atenda no setor de importação da Trading Company ou do Despachante Aduaneiro que cuida das suas importações.

Essa pessoa deve ter a maioria das experiências que mencionei e já sabe como é trabalhar contigo: Sabe como é seu humor, a hora de te ligar, como te manter informado, como resolver conflitos…

Aqueles detalhes que só o convívio ensina, mas que são tão importantes para o bom clima do trabalho 🙂

E você, leitora(o)?

O que achou do assunto? Experiência prática e Inglês são as mais importantes? Quais outras experiências consideraram ao contratar um profissional para seu setor de importação? Como você decide depois das entrevistas? Vamos continuar conversando nos comentários.

Este artigo foi escrito com os amigos da LogComex e publicado originalmente em blog.logcomex.com

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A Sociedade do Cansaço está presente no Comércio Exterior

Faz mais de 6 meses que li o livro do filósofo sul-coreano Byung-chul Han, mas foi preciso reler, pesquisar e refletir sobre como a Sociedade do Cansaço está presente no Comércio Exterior.

Não se limita à nossa área: de acordo com o estudo do IBOPE Inteligência, 98% dos brasileiros apresentam algum nível de cansaço físico ou mental e dois em cada três (63%) já acordam indispostos e cansados.

Mas aqui, somos sobrecarregados em volume de importação e exportação, por vezes ignorando a complexidade do processo e da dificuldade que é lidar com certos clientes.

E muitas das vezes a culpa é nossa, por aceitarmos tudo que vem.

Sim, temos boletos para pagar, mas digo por experiência própria e dos colegas de profissão – veja meus argumentos para discutirmos nos comentários.

Sai a Sociedade Disciplinar, entre a Sociedade do Desempenho

“A sociedade do século XXI não é mais disciplinar, mas de desempenho, seus habitantes não se chamam mais ‘’sujeitos da obediência”, mas “sujeitos de desempenho e produção”. São empresários de si mesmos, nesse sentido, aqueles muros que delimitam os espaços entre normal e anormal, se tornam arcaicos”. – Sociedade do Cansaço

É fácil vermos a Sociedade Disciplinar no modo que nossos pais trabalhavam.

Havia horário para começar, almoçar, tomar um cafezinho e ir embora. A forma de trabalhar era engessada em rigorosos procedimentos, sem permitir chegar no mesmo resultado por caminhos diferentes.

O sucesso se resumia em trabalhar com disciplina, fazendo a mesma coisa por muitos anos, para alcançar o American Dream.

Uma imagem contendo edifício, carro, ao ar livre, estrada

Descrição gerada automaticamente

Diferente da minha geração (estou com 33 verões) e os mais novos, nós prezamos pela liberdade, queremos ser valorizados e pagos conforme nosso desempenho, somos responsáveis por nossa disciplina, procedimentos são necessários, mas eles não podem oprimir nossa criatividade.

Não estou afirmando que a Sociedade Disciplinar acabou e ninguém mais bate ponto, estamos na transição das duas, mudanças dessa amplitude levam décadas.

Assim como o modelo da Sociedade Disciplinar foi explorado até resultar na rebeldia contra ele, como no movimento Punk (Rock, não a Levada da Breca), a Sociedade do Desempenho já demonstra sintomas preocupantes na forma com que trabalhamos com o Comércio Exterior.

Momento nostalgia, de 1984.

Na presente Sociedade do Cansaço, é quase um crime se entediar

“Quem se entendia no andar e não tolera estar entediado, ficará andando a esmo inquieto, irá se debater ou se afundará nesta ou naquela atividade. Mas quem é tolerante com o tédio, depois de um tempo irá reconhecer que possivelmente é o próprio andar que o entendia. Assim, ele será impulsionado a procurar um movimento totalmente novo”. – Sociedade do Cansaço

Escrever e palestrar me permitiu conversar mais com líderes de empresas do Comércio Exterior e algo que a maioria deles reclama é a dificuldade de contratar e manter jovens inexperientes por mais de 3 meses.

Além de descobrirem que não vão (tão cedo) viajar pelo mundo a trabalho, não são capazes de assumir uma função de assistente com trabalhos repetitivos, pois não suportam o tédio, aliado aos vícios de crer que estão destinados a grandes feitos no mundo e que o que fazem não é tão importante.

Foi no meu primeiro trabalho que aprendi a traduzir, descrever e classificar fiscalmente (NCM), lá desenvolvemos um banco de dados com mais de 3000 produtos diferentes.

Além disso, a experiência melhorou meu inglês técnico e a compreensão de como um fiscal da Receita analisa esse trabalho, pois aprendi, na base da repetição, que nem sempre basta seguir a NESH e as Regras Gerais para Interpretação do Sistema Harmonizado para ser compreendido.

E existem aqueles que conseguem superar o tédio da repetição, mas jamais aprendem o ofício com qualidade, porque usaram da falácia de ser…

Multitarefa

“A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável para sobreviver (…), o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem no comer nem no copular”. – Sociedade do Cansaço

Certeza que já tem casal otimizando o sexo enquanto assiste seriado ou olha as redes sociais.

O autor explica no livro que a multitarefa gera excesso de estímulo, consequentemente a falta de foco e reflexão na tarefa, não permitindo nos aprofundarmos para absorver o aprendizado, pois a atenção é ampla, mas rasa, à beira do automático.

Uma imagem contendo objeto

Descrição gerada automaticamente

Entenda, você não multiplica sua atenção na Multitarefa, você a divide.

Apenas máquinas executam várias tarefas ao mesmo tempo, o ser humano que divide a atenção no trabalho, além de errar mais, demora mais para concluir, pois reinicia um mesmo trabalho diversas vezes.

Consequentemente, acabamos cansados por fazer tanto e desmotivados devido ao baixo desempenho. a falácia da multitarefa é um dos principais males da sociedade do cansaço e sabemos como é presente no comércio exterior.

A Sociedade do Cansaço coage para competir contra si mesmo e os outros.

“(…) o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”. – Sociedade do Cansaço

As redes sociais e ausência de paredes nos escritórios estimulam para que vejamos o desempenho um dos outros e, assim, nos cobrarmos a fazer mais.

No trabalho, vemos o desempenho nas comissões, nos KPI e SLA, nas premiações e, também, nos nomes de cargos – que inflam o ego com uma descrição mirabolante e em inglês.

“Sou apenas um Assistente de Vendas, meu sonho é atualizar o LinkedIn com o cargo Business Sales Intelligence Development Analyst e desfilar com um crachá igual ao da Renata e do Bruno.”

E quando consegue, sequer desfruta da conquista e já baixa a cabeça para ralar mais ainda, mas hey, ficou bonitão esse nome na assinatura do e-mail!

Nas redes sociais, ao invés de compartilhar experiências e conhecimento, utilizamos o espaço unicamente para autoafirmar o “sucesso” através de posses, dizendo se tratar de #tbt ou de #gratidão, mas na verdade é apenas #ostentação.

Vi pessoas no Instagram usando #comex em foto de viagem de lazer, POR QUE ESSA BIRRA DE TER QUE VIAJAR PARA FAZER COMÉRCIO EXTERIOR?

O cansaço acaba com a nossa ira para dizer CHEGA a tanta produtividade e positividade

A ira é uma capacidade que está em condições de interromper um estado, e fazer com que se inicie um novo estado. Hoje, cada vez mais ela cede lugar à irritação ou ao enervar-se, que não podem produzir nenhuma mudança decisiva. (…) Ela representa um estado de exceção. A crescente positivação do mundo torna-o pobre em estados de exceção”. – Sociedade do Cansaço

Na Sociedade do Desempenho queremos liberdade para alcançarmos nossos resultados, mas insistimos em compará-lo no trabalho e nas redes sociais e, para crescermos com nomes de cargos e fotinhos de viagem no Insta, utilizamos a positividade como motivação.

  • Cuida de mais um processo
  • Pega mais esse cliente
  • Absorve mais essa função
  • Acorda um pouco mais cedo para responder o chinês
  • Você consegue, sim
  • Você dá conta, sim
  • Vai com #positividade que tudo é possível

E a cada “só” e “sim” que a sociedade do cansaço fica mais presente no comércio exterior.

A positividade é um veneno homeopaticamente aplicado para fazermos mais, até que o cansaço se torna constante pois não vemos quando ultrapassamos nossos limites e não temos como comparar.

Pois o estado de cansaço se tornou normal e nosso foco está em se comparar com outros, que também estão cansados de tanto ostentar resultados.

Nós precisamos da Ira, do Tédio e da Negatividade

Sabe o que esses três estados têm em comum? Eles causam interrupção do estado de fluxo.

Estar em modo constante de desempenho e positividade lhe levará a um comportamento automático e repetitivo de execução, que é justamente o estado de fluxo com o qual precisamos ter cuidado para não acabarmos sendo substituídos por robôs.

A Ira nos alertará quando estamos sendo pressionados além de nossa resiliência, o Tédio permitirá que absorvamos e reflitamos sobre o trabalho realizado (nada de multitarefa!) e a Negatividade é necessária para pararmos de prometer que vamos conseguir embarcar durante o Ano Novo Chinês.

Acreditar que vai dar certo com a positividade, ter interesse por novos desafios e ser complacente por fazer mais (com seus devidos cuidados) é necessário, mas é preciso equilíbrio com seus opostos.

Recomendação de leitura

O que tratei aqui é uma fração das reflexões que esse livro me proporcionou. Em tempos de busca pela alta performance, lembre-se que é necessário pisar no freio para refletir.

Você pode comprar o livro clicando aqui ou na imagem.

Transparência: Faço parte do programa de Associados da Amazon, a compra por esse link monetiza meu site sem encarecer o produto… E a recomendação é genuína.

E você, leitora(o)?

Não sou Coach, Filósofo ou profissional de Recursos Humanos, apenas associei minhas experiências e opiniões com os aprendizados que obtive lendo, para me preocupar com o quão presente a Sociedade do Cansaço está no comércio exterior.

Tampouco creio que levantar paredes e sair completamente das redes sociais irá resolver, o problema aqui é como estamos nos cuidando individualmente.

Como este é um artigo baseado na minha opinião, sei que existem diversos “poréns” no que disse, então vamos abrir o espaço dos comentários para discutirmos mais!

Conte-nos suas experiências, opiniões, se já leu o livro e como tem evitado o cansaço.