Como funciona a taxa cambial cobrada no frete internacional.

A contratação de frete internacional de um agente de carga, armador ou companhia aérea sempre envolverá valores em moeda estrangeira, e como o câmbio no Brasil é flutuante, é preciso que as cotações e faturas informem a taxa cambial do frete internacional e demais serviços.

Mas nas cotações não constam a taxa do Dólar, Euro ou a Libra da tia Bétinha, da mesma forma como é a do Banco Central, informam apenas que será cobrado uma tal de PTAX mais uma porcentagem extra e quando chega a fatura para pagar, a taxa está sempre acima do informado pelo Banco Central naquele dia.

Pode parecer confuso e injusto e, por isso, vou com este texto explicar como funciona a taxa cambial cobrada no frete internacional, para que você possa dominar o assunto e usá-lo em seu favor afim de surpresas nos valores.

O que é taxa PTAX e de onde vem seu valor?  

Segundo o Estudo 42/2019 do Banco Central do Brasil (BCB), o nome veio do sistema PTAX800 que, mesmo após ser desativado em 2014, teve a nomenclatura mantida por já ser assim conhecida por aqueles que operam no câmbio… Do mesmo jeito como quando falamos que vamos comprar Gilette, Cotonete, Band-Aid, Sucrilhos.

Sim, a palavra Sucrilhos pertence ao Tonyzão da Kellogs

A cotação da PTAX é usada em diversos produtos dentro e fora da Bolsa de Valores como: Contratos futuros e de opções, contratos derivativos e, claro, no Siscomex para atender as operações de comércio exterior.

Seu valor é determinado pelo BCB ao consultar os valores de compra e venda que os Dealers (a turma que o BCB autorizou a operar no mercado cambial) estão ofertando nos 4 momentos de mais fervo no mercado, que são:

  • Primeira consulta: entre 10h e 10h10;
  • Segunda consulta: entre 11h e 11h10;
  • Terceira consulta: entre 12h e 12h10;
  • Quarta consulta: entre 13h e 13h10.

O BCB elimina as duas taxas maiores e menores, tanto na cotação de compra quando na venda e realiza uma média simples para encontrar o valor.

Entendemos aqui que é o mercado que define a cotação, o BCB apenas consulta, calcula e informa, vamos para a parte que mais nos interessa.

Por que no frete internacional é cobrado acima do valor da PTAX?

O primeiro motivo é para se proteger da variação cambial, como disse antes,o câmbio no Brasil é flutuante (também conhecido como “Sujo”) ou seja, o BCB intervém no preço apenas para conter fortes oscilações, normalmente causadas por excessos de emoção, principalmente desespero, pois moeda é algo que o valor sobe de elevador e desce de escada.

Como no dia 26/Nov/19, quando o BCB interviu após o dólar chegar próximo de R$4,27.

Com isso em mente, veja o exemplo do caminho que seu dinheiro fará caso pague um agente de carga num frete marítimo:

  1. O agente te envia a fatura para pagar;
  2. Você confere e providencia o pagamento com seu financeiro;
  3. O agente de carga recebe e providencia os pagamentos para:
    1. O armador;
    1. O agente de carga na outra ponta.

O exemplo acima além de simplório considerou que tudo deu certo – coisa rara de dizer no comércio exterior, pois basta um feriado no caminho ou casos mais cara-de-pau como “a pessoa que paga está de férias” para que estes pagamentos demandem bastante tempo.

Além dos procedimentos comuns a todos os setores financeiros: requerer aprovações, programação o pagamento, lançar no sistema… Uns eficientes, outros nem tanto, dependendo da qualidade do fluxo de procedimentos e sistemas.

Enquanto todo esse tempo passa a cotação das moedas continua variando (mesmo fora de horário comercial), razão pela qual essa porcentagem é necessária para proteger o recebedor do pagamento da variação cambial.

Mas precisam cobrar PTAX tão alta para se proteger!?

Acima eu dei a explicação que quem lhe vende frete usará sobre para justificar a PTAX, e realmente não é mentira, mas é fato que muitos se valem dela como forma de aumentar os lucros. Eles podem deixar como padrão para os desavisados a porcentagem que bem entenderem.

Mas se você pediu prazo de 10, 15 ou 30 dias para pagar, com certeza você pagará por esse prazo em algum lugar, pois ninguém vai correr esse risco de graça por você (“ninguém” é muita gente, sempre existem os “Aventureiros”), portanto é provável que este “risco” estará embutido no aumento da porcentagem sobre a PTAX ou até em alguma outra taxa.

Posso negociar a PTAX?

Não só pode como deve!

Agora sim! Conte-me mais sobre isso.

Dinheiro é uma commodity, que tem o valor que for conforme eu, você e o mercado crer, portanto, assim como qualquer compra, é questão de negociar.

E para que seu poder de barganha seja maior, determine o valor dela antes de contratar o frete, pois se deixar para reclamar na hora de pagar, correrá o risco de não conseguir o seu objetivo, além de demorar para ser aprovado.

Mas se você fez certinho e negociou antes de contratar o frete, apenas lembre-se de conferir se o acordo foi cumprido antes de pagar.

Ao invés de trabalhar com diferentes porcentagens sobre a PTAX com cada agente de carga, eu lhe sugiro padronizar a mesma porcentagem com todos, dessa forma, será um aspecto a menos para se preocupar, quando for comparar as cotações.

Mas tenha bom senso e lembre-se que é melhor desenvolver fornecedores do que batê-los por preço.

***

A taxa cambial cobrada no frete internacional é apenas mais um dos diversos detalhes que precisamos ter cuidado quando cotamos e analisamos as propostas de frete internacional recebidas.

Entendemos que sua existência é justa, mas é preciso cuidados para que não haja exageros ou surpresas na hora de pagar o serviço.

E você, leitora (o)?

Gostaria de acrescentar mais sobre o assunto? Há outros cuidados ou formas de prevenção? Já teve atritos por causa dela? Sua experiência é sempre bem-vinda nos comentários.

Este artigo foi escrito com os amigos da LogComex e publicado originalmente em blog.logcomex.com

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Dicas para reduzir custos e problemas ao importar com frete incluso (Prepaid).

Se existe algum setor em nosso comércio exterior que nunca realiza importações com frete incluso, podemos dizer que ele é privilegiado.

Ao menos para mim, foram raros os momentos que tive apenas embarques EXW e FOB, e estes poucos Prepaid foram capazes de gerar tanto estresse e ranço que até hoje carrego uma lista dos “Agentes de Carga que jamais darei uma chance”.

E engana-se se você achar que foram apenas os de pequeno porte, existem dois que estão há muitos anos como os maiores movimentadores de carga do mundo.

Como sempre há exceções, existiram excelentes agentes e armadores no Prepaid com os quais pude aprender, assim como aprendi com os problemáticos que é possível reduzir custos e problemas, porque

Às vezes, o Prepaid é inevitável.

Pois pode acontecer do exportador não aceitar embarcar com frete a pagar pelo importador (Collect), pelos mais diversos motivos, dependendo do produto e segmento, mas deixo a título de exemplo duas situações que presenciei seguidamente:

  1. Embarques em container Flat Rack, no qual a carga era tão volumosa, pesada, cara, delicada e de demorada fabricação, que o exportador preferia cuidar do carregamento e transporte internacional, pois sabia que na mão dele não haveria problemas na viagem.
  2. O volume de embarques do exportador era tão alto, que dependia de trabalhar alinhadamente com seus Agentes de Carga de confiança, para que a logística da fábrica até o porto ocorresse com sucesso.

E nestes dois casos o volume e experiência desses exportadores era tamanha que seguidamente não conseguíamos um frete igualmente competitivo.

Leitor de Agente Carga: Não conseguiu frete bom porque não cotou comigo hahaha!

Em toda negociação há limites ou critérios que uma das partes não aceita abrir mão, mas isso não impede que tomemos ações para nos precaver dos comuns problemas que o embarque Prepaid costuma causar – já os abordei mais a fundo no texto 5 razões para não importar com frete incluso (Prepaid), deixarei o link dele no final.

Proteja-se durante a compra.

Se o exportador não abre mão do frete internacional, então resta ao importador determinar na proposta as condições que impeçam este frete ser uma caixa pandora (seja uma PO, Invoice ou Contrato de Compra).

Determine as condições logísticas do frete internacional.

Essa parte é similar a cotar frete internacional, podemos determinar aspectos logísticos como:

  • Tempo máximo de Trânsito (Transit Time);
  • Se aceita embarque parcial;
  • Se aceita Transbordo;
  • No caso de carga consolidada (LCL), se aceita abertura de container no porto de transbordo;
  • Free time mínimo;
  • Quais tipos de container aceitam;
  • Se aceita ou não que parte da rota seja feito por Trânsito Aduaneiro.

Utilize o pagamento para se proteger do embarque sem autorização.

Se o pagamento ao exportador for após o embarque, o importador está suscetível ao EXP dar uma de John without Arm (Do inglês, João Sem Braço) e embarcar a mercadoria sem autorização.

Pior, o importador somente ficar sabendo quando receber o conhecimento de embarque para aprovar.

Não precisa muito para acabar com o dia de um importador 😉

Uma maneira de evitar esta malandragem é determinando que parte do pagamento ocorra somente após o exportador informar a prontidão da mercadoria, assim, motivando-o a produzi-la rapidamente para ser pago e como depende de receber, o importador não será surpreendido.

Hey, é só uma sugestão, sei que essa ideia vai fazer seu embarque demorar mais, cabe a você avaliar se serve para a sua importação.

Apresente os seus Agentes de Carga brasileiros ao exportador.

Tente intermediar um contato dos seus agentes de carga mais queridos ao agente do exportador; algumas vezes, compartilhar a assinatura de e-mail deles baste, pois talvez esse agente na origem já conheça ou até tenham uma parceria firmada.

Vai que viram melhores amigos.

Caso tenha ou aceite trabalhar com um dos seus indicados, sem dúvida isso vai favorecer no fluxo das informações e redução de custos de destino. Esta ideia é mais difícil de dar certo, mas como diria o Jonas adolescente, magricelo, espinhento e jogador de RPG e video-game:

O “não” já temos (até eu conhecer a humilhação).

Se apresente ao Agente de Carga no Brasil.

Considerando que usar um agente seu não funcionou, pergunte ao exportador ou ao Agente dele quem é seu parceiro e entre em contato com ele logo! É importante que isso seja feito antes do embarque, na verdade, antes mesmo da mercadoria estar pronta.

Isso foi o que encontrei ao pesquisar awkward handshake.

O objetivo é começar uma relação comercial para não ser tratado como mais um qualquer de processo Prepaid e sim, como um cliente em potencial.

Se apresente, conte da sua empresa, das importações e desse novo embarque que irão trabalhar juntos, negocie os custos de destino, porém, deixe claro a ele que essa é uma oportunidade para fazer um bom trabalho e assim conseguir embarques contratados por você.

Já que, de certa forma, está obrigado a trabalhar com ele, então que comecem em harmonia, nem você, nem o agente ou o exportador querem se estressar.

***

Reduzir custos e dificuldades na importação Prepaid é um desafio complexo, sei que as dicas geram ainda mais trabalho para o importador, mas os problemas que importar Prepaid sem se prevenir podem causar, conseguem gerar transtornos superiores às tentativas de prevenção.

E nem todas são aplicáveis, pode ser que seu principal exportador seja um gigante do setor e seu volume de compra é (proporcionalmente) tão pequeno, que ele não aceite adicionar ou mudar nada na proposta e para piorar, o Agente de Carga dele no Brasil é mais um PNC acéfalo, que visa apenas ganhar na Lei de Gerson no curto prazo e te despreze igualmente.

Mas aí são assuntos para futuros textos e, como mencionei no início, sugiro o artigo abaixo como leitura complementar.

E você, leitora(o)?

Também se estressa com importações Prepaid? Quais são suas dicas para minimizar as dificuldades? Divida sua experiência com os demais colegas nos comentários.


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