A Sociedade do Cansaço está presente no Comércio Exterior

Faz mais de 6 meses que li o livro do filósofo sul-coreano Byung-chul Han, mas foi preciso reler, pesquisar e refletir sobre como a Sociedade do Cansaço está presente no Comércio Exterior.

Não se limita à nossa área: de acordo com o estudo do IBOPE Inteligência, 98% dos brasileiros apresentam algum nível de cansaço físico ou mental e dois em cada três (63%) já acordam indispostos e cansados.

Mas aqui, somos sobrecarregados em volume de importação e exportação, por vezes ignorando a complexidade do processo e da dificuldade que é lidar com certos clientes.

E muitas das vezes a culpa é nossa, por aceitarmos tudo que vem.

Sim, temos boletos para pagar, mas digo por experiência própria e dos colegas de profissão – veja meus argumentos para discutirmos nos comentários.

Sai a Sociedade Disciplinar, entre a Sociedade do Desempenho

“A sociedade do século XXI não é mais disciplinar, mas de desempenho, seus habitantes não se chamam mais ‘’sujeitos da obediência”, mas “sujeitos de desempenho e produção”. São empresários de si mesmos, nesse sentido, aqueles muros que delimitam os espaços entre normal e anormal, se tornam arcaicos”. – Sociedade do Cansaço

É fácil vermos a Sociedade Disciplinar no modo que nossos pais trabalhavam.

Havia horário para começar, almoçar, tomar um cafezinho e ir embora. A forma de trabalhar era engessada em rigorosos procedimentos, sem permitir chegar no mesmo resultado por caminhos diferentes.

O sucesso se resumia em trabalhar com disciplina, fazendo a mesma coisa por muitos anos, para alcançar o American Dream.

Uma imagem contendo edifício, carro, ao ar livre, estrada

Descrição gerada automaticamente

Diferente da minha geração (estou com 33 verões) e os mais novos, nós prezamos pela liberdade, queremos ser valorizados e pagos conforme nosso desempenho, somos responsáveis por nossa disciplina, procedimentos são necessários, mas eles não podem oprimir nossa criatividade.

Não estou afirmando que a Sociedade Disciplinar acabou e ninguém mais bate ponto, estamos na transição das duas, mudanças dessa amplitude levam décadas.

Assim como o modelo da Sociedade Disciplinar foi explorado até resultar na rebeldia contra ele, como no movimento Punk (Rock, não a Levada da Breca), a Sociedade do Desempenho já demonstra sintomas preocupantes na forma com que trabalhamos com o Comércio Exterior.

Momento nostalgia, de 1984.

Na presente Sociedade do Cansaço, é quase um crime se entediar

“Quem se entendia no andar e não tolera estar entediado, ficará andando a esmo inquieto, irá se debater ou se afundará nesta ou naquela atividade. Mas quem é tolerante com o tédio, depois de um tempo irá reconhecer que possivelmente é o próprio andar que o entendia. Assim, ele será impulsionado a procurar um movimento totalmente novo”. – Sociedade do Cansaço

Escrever e palestrar me permitiu conversar mais com líderes de empresas do Comércio Exterior e algo que a maioria deles reclama é a dificuldade de contratar e manter jovens inexperientes por mais de 3 meses.

Além de descobrirem que não vão (tão cedo) viajar pelo mundo a trabalho, não são capazes de assumir uma função de assistente com trabalhos repetitivos, pois não suportam o tédio, aliado aos vícios de crer que estão destinados a grandes feitos no mundo e que o que fazem não é tão importante.

Foi no meu primeiro trabalho que aprendi a traduzir, descrever e classificar fiscalmente (NCM), lá desenvolvemos um banco de dados com mais de 3000 produtos diferentes.

Além disso, a experiência melhorou meu inglês técnico e a compreensão de como um fiscal da Receita analisa esse trabalho, pois aprendi, na base da repetição, que nem sempre basta seguir a NESH e as Regras Gerais para Interpretação do Sistema Harmonizado para ser compreendido.

E existem aqueles que conseguem superar o tédio da repetição, mas jamais aprendem o ofício com qualidade, porque usaram da falácia de ser…

Multitarefa

“A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável para sobreviver (…), o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem no comer nem no copular”. – Sociedade do Cansaço

Certeza que já tem casal otimizando o sexo enquanto assiste seriado ou olha as redes sociais.

O autor explica no livro que a multitarefa gera excesso de estímulo, consequentemente a falta de foco e reflexão na tarefa, não permitindo nos aprofundarmos para absorver o aprendizado, pois a atenção é ampla, mas rasa, à beira do automático.

Uma imagem contendo objeto

Descrição gerada automaticamente

Entenda, você não multiplica sua atenção na Multitarefa, você a divide.

Apenas máquinas executam várias tarefas ao mesmo tempo, o ser humano que divide a atenção no trabalho, além de errar mais, demora mais para concluir, pois reinicia um mesmo trabalho diversas vezes.

Consequentemente, acabamos cansados por fazer tanto e desmotivados devido ao baixo desempenho. a falácia da multitarefa é um dos principais males da sociedade do cansaço e sabemos como é presente no comércio exterior.

A Sociedade do Cansaço coage para competir contra si mesmo e os outros.

“(…) o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”. – Sociedade do Cansaço

As redes sociais e ausência de paredes nos escritórios estimulam para que vejamos o desempenho um dos outros e, assim, nos cobrarmos a fazer mais.

No trabalho, vemos o desempenho nas comissões, nos KPI e SLA, nas premiações e, também, nos nomes de cargos – que inflam o ego com uma descrição mirabolante e em inglês.

“Sou apenas um Assistente de Vendas, meu sonho é atualizar o LinkedIn com o cargo Business Sales Intelligence Development Analyst e desfilar com um crachá igual ao da Renata e do Bruno.”

E quando consegue, sequer desfruta da conquista e já baixa a cabeça para ralar mais ainda, mas hey, ficou bonitão esse nome na assinatura do e-mail!

Nas redes sociais, ao invés de compartilhar experiências e conhecimento, utilizamos o espaço unicamente para autoafirmar o “sucesso” através de posses, dizendo se tratar de #tbt ou de #gratidão, mas na verdade é apenas #ostentação.

Vi pessoas no Instagram usando #comex em foto de viagem de lazer, POR QUE ESSA BIRRA DE TER QUE VIAJAR PARA FAZER COMÉRCIO EXTERIOR?

O cansaço acaba com a nossa ira para dizer CHEGA a tanta produtividade e positividade

A ira é uma capacidade que está em condições de interromper um estado, e fazer com que se inicie um novo estado. Hoje, cada vez mais ela cede lugar à irritação ou ao enervar-se, que não podem produzir nenhuma mudança decisiva. (…) Ela representa um estado de exceção. A crescente positivação do mundo torna-o pobre em estados de exceção”. – Sociedade do Cansaço

Na Sociedade do Desempenho queremos liberdade para alcançarmos nossos resultados, mas insistimos em compará-lo no trabalho e nas redes sociais e, para crescermos com nomes de cargos e fotinhos de viagem no Insta, utilizamos a positividade como motivação.

  • Cuida de mais um processo
  • Pega mais esse cliente
  • Absorve mais essa função
  • Acorda um pouco mais cedo para responder o chinês
  • Você consegue, sim
  • Você dá conta, sim
  • Vai com #positividade que tudo é possível

E a cada “só” e “sim” que a sociedade do cansaço fica mais presente no comércio exterior.

A positividade é um veneno homeopaticamente aplicado para fazermos mais, até que o cansaço se torna constante pois não vemos quando ultrapassamos nossos limites e não temos como comparar.

Pois o estado de cansaço se tornou normal e nosso foco está em se comparar com outros, que também estão cansados de tanto ostentar resultados.

Nós precisamos da Ira, do Tédio e da Negatividade

Sabe o que esses três estados têm em comum? Eles causam interrupção do estado de fluxo.

Estar em modo constante de desempenho e positividade lhe levará a um comportamento automático e repetitivo de execução, que é justamente o estado de fluxo com o qual precisamos ter cuidado para não acabarmos sendo substituídos por robôs.

A Ira nos alertará quando estamos sendo pressionados além de nossa resiliência, o Tédio permitirá que absorvamos e reflitamos sobre o trabalho realizado (nada de multitarefa!) e a Negatividade é necessária para pararmos de prometer que vamos conseguir embarcar durante o Ano Novo Chinês.

Acreditar que vai dar certo com a positividade, ter interesse por novos desafios e ser complacente por fazer mais (com seus devidos cuidados) é necessário, mas é preciso equilíbrio com seus opostos.

Recomendação de leitura

O que tratei aqui é uma fração das reflexões que esse livro me proporcionou. Em tempos de busca pela alta performance, lembre-se que é necessário pisar no freio para refletir.

Você pode comprar o livro clicando aqui ou na imagem.

Transparência: Faço parte do programa de Associados da Amazon, a compra por esse link monetiza meu site sem encarecer o produto… E a recomendação é genuína.

E você, leitora(o)?

Não sou Coach, Filósofo ou profissional de Recursos Humanos, apenas associei minhas experiências e opiniões com os aprendizados que obtive lendo, para me preocupar com o quão presente a Sociedade do Cansaço está no comércio exterior.

Tampouco creio que levantar paredes e sair completamente das redes sociais irá resolver, o problema aqui é como estamos nos cuidando individualmente.

Como este é um artigo baseado na minha opinião, sei que existem diversos “poréns” no que disse, então vamos abrir o espaço dos comentários para discutirmos mais!

Conte-nos suas experiências, opiniões, se já leu o livro e como tem evitado o cansaço.

A saída do Reino Unido da União Europeia e a atual relação comercial com o Brasil.

Quarenta e sete anos depois de adentrar na antiga Comunidade Econômica Europeia, a saída do Reino Unido da União Europeia ocorreu no dia 31 de janeiro de 2020.

É o primeiro país a deixar o bloco.

Ele não tem mais voz e poder de voto no bloco econômico e já está livre para negociar com outras nações, mas o Brexit está agora em transição, a saída real é prevista para ocorrer em 1º de janeiro de 2021, sendo possível prorrogar o prazo.

Tipo aquela visita que te dá tchau, mas fica parada na porta de sua casa conversando.

Dado o importante acontecimento com o 5º maior PIB nominal mundial, o assunto é relevante para quem atua no comércio exterior brasileiro e mais ainda para a turma de Relações Internacionais.

Então, a saída do Reino Unido da União Europeia ainda não aconteceu?

Como se está tratando de nações e não de visitas inconvenientes, a transição é necessária para que o Reino Unido consiga se desvincular de todos os aspectos que o ligam à UE, por exemplo das integrações econômicas:

  • União aduaneira;
  • Mercado comum de serviços e capitais, com ressalvas na circulação de pessoas;
  • União econômica, exceto a monetária, pois nunca aderiram ao Euro;
  • União política (Parlamento Europeu, Conselho, Comissão, Tribunal da UE e etc.).

O Reino Unido, por sempre ter tido mais interesse econômico no bloco, evitou de se submeter completamente ao Mercado Comum e à União Econômica e, mesmo assim, terá buchas desafios nessa transição, como:

  • Importação e exportação de mercadorias (Controle aduaneiro e tarifário);
  • Soberania de zonas marítimas para pesca;
  • Suprimento de eletricidade e gás (muita da energia britânica é importada);
  • Regras de imigração de mão-de-obra e estudantes; e
  • A fronteira entre a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) com a República da Irlanda.

Esse último ponto ficará mais visível abaixo, pois as terminologias desse assunto podem nos levar ao erro.

Qual a diferença entre Reino Unido, Grã-Bretanha e Inglaterra?

A palavra Brexit vem da junção das palavras Britsh (Britânico) e Exit (Saída), o que pode levar a pensar que se trata da Grã-Bretanha (Great Britain) mas quem pertencia à União Europeia era o Reino Unido (United Kingdom). Essas denominações têm significados e engloba países diferentes, conforme o mapa abaixo:

Fonte: Briliantmaps.com – Apaguei aqui a Ilha de Man (Isle of Man) pois ela não pertence ao Reino Unido, é apenas uma dependência da Coroa Britânica, tanto que nunca fez parte da União Europeia.

  • England = Refere-se ao país Inglaterra e somente quem nasce lá é chamado de Inglês (English).
  • Amarelo (Grã-Bretanha) = Trata-se da maior das ilhas britânicas (Azul), formada por Inglaterra, Escócia e País de Gales.
  • Vermelho (Reino Unido) = É o Estado independente formado pelos países da Grã-Bretanha mais a Irlanda do Norte,

Nesse último, vemos a delicada situação que será a fronteira entre as “Irlandas”. Uma vez que conseguimos identificar o Reino Unido, um Estado de Monarquia Constitucional Parlamentar, composto por Estados que possuem governos próprios, mas todos se submetem ao Parlamento do Reino Unido, localizado em Londres, e tem (no momento) Boris Johnson como primeiro ministro e (para sempre, pelo jeito) a Rainha Bétinha como monarca.

Seu Bóris e dona Bétinha.

Qual é a relação comercial do Reino Unido com o Brasil?

Considerando o Reino Unido ter o 5º e o Brasil o 9º maior PIB nominal do mundo, é curioso que tenham representado em 2019 somente cerca de 1,32% de nossas importações e exportações, pois é um país com tradição de comercializar com o mundo desde que tomaram gosto por colonizar.

EUA, Canadá, Índia, Austrália e boa parte da África que o diga…

Extensão do império Britânico em 1921 – Imagina jogar War com a essa família…

Os dados de 2018 comprovam a sua relevante participação como sendo o 5º exportador e 12º importador do mundo, porém, a saída do Reino Unido da União Europeia não se concretizou e o país ainda usufrui dos benefícios comerciais do bloco.

Natural que darão prioridade a negociar com China, EUA e a própria UE, mas o Brasil não será esquecido, pois é destino de muitos de seus manufaturados, além de ser natural que países com governos de ideologias similares tendam a negociar mais.

Apesar de comprarmos deles majoritariamente o produto manufaturado, nossas exportações diversificam melhor que os britânicos e tivemos em 2019 um superávit US$638,82 milhões.

Uma imagem contendo captura de tela

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Comexvis

Sob a ótica do comércio internacional, a saída do Reino Unido da União Europeia e os futuros movimentos diplomáticos e comerciais serão interessantes de acompanhar e com certeza serão tema de estudos no futuro.

E para manter as expectativas do FMI a respeito do crescimento do PIB em 1,6%, o país deverá (e logo!) providenciar acordos comerciais para evitar que barreiras tarifárias ou não tarifárias prejudiquem seu comércio exterior.

Considerando a morosidade que existe para firmar acordos bi ou multilaterais, sabemos que será desafiador, pois se um lado que negocia tem pressa, este precisará ceder mais para conseguir em menor tempo.

E você, leitora(o)?

Quais suas expectativas para o Reino Unido? Será que num futuro distante, voltarão para o bloco? O Brasil vai desenvolver o comércio exterior com eles? Visitas que conversam na porta e não vão embora também te incomodam? Vamos continuar conversando nos comentários.

Este artigo foi escrito com os amigos da LogComex e publicado originalmente em blog.logcomex.com

Não é ilegal armadores e agentes de carga cobrarem a taxa cambial acima da PTAX?

O plano era tratar desse assunto no último artigo que expliquei como funciona a taxa cambial cobrada no frete internacional, mas a verdade é que ele requer um texto próprio devido sua complexidade e necessidade de uma abordagem prática que vai além de analisarmos ser ou não ilegal armadores e agentes de carga cobrarem a taxa cambial acima da PTAX.

No comércio exterior já estamos acostumados (contra a nossa vontade) a pagar valores ilegais quase que diariamente, a exemplo da Taxa de Utilização do Siscomex e o encarecimento do Valor Aduaneiro ao adicionar o THC em seu cálculo.

Mas vamos nos limitar ao assunto e começar analisando o que a legislação da ANTAQ (Agência Nacional de Transporte Aquaviários), responsável pelo nosso transporte aquaviário, determina sobre, se está sendo cumprido e minha análise sobre o assunto.

É ou não é ilegal cobrarem a taxa cambial acima da PTAX?

A resposta é encontrada no Inciso I, Art. 27 da RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 18, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2017

Art. 27. Constituem infrações administrativas de natureza média:

I – na navegação de longo curso, quando o frete estiver expresso em moeda estrangeira, utilizar a conversão para o padrão monetário nacional com base diferente da tabela “taxa de conversão de câmbio” do Sistema de Informações do Banco Central? SISBACEN, utilizada pelo Sistema Integrado do Comércio Exterior – SISCOMEX, vigente na data do efetivo pagamento da fatura: multa de até R$ 100.000,00 (cem mil reais);

Ou seja, é ilegal e prevê uma pena de multa pesada o bastante para fechar a porta de muitos agentes de carga de pequeno porte,o que já demonstra falta de estudo por parte da ANTAQ ao determinar uma multa fixa tão alta, pois desconsidera o “tamanho” dos prestadores de serviço e da operação, além de julgar prematuramente que todos os caso que há o aumento, é porque está sendo exercida de maneira abusiva.

Considera-se uma infração, pois cabe apenas ao Banco Central (BACEN) regular o mercado cambial no Brasil e, portanto, é ele que autoriza quem pode operar negociando a compra e venda de “dinheiros estrangeiros”.

Por isso que os autorizados se limitam a instituições como bancos comerciais, bancos de câmbio e corretoras. É evidente que este conjunto não inclui Armadores e Agentes de Carga, não é? Pois não compramos e vendemos moeda destes, apenas convertemos valores; o “negócio” deles são fretes e serviços logísticos e, por isso, eles estão submetidos ao controle e regulamentação da ANTAQ.

E os Armadores e Agentes de Carga o fazem, mesmo sabendo ser ilegal?

Pois é. A verdade é que desconheço quem não o faça, é uma prática tão comum que basta acessar o site ou ligar para o escritório de qualquer um deles e perguntar qual é a “taxa do dia”, que será informado sem dificuldades.

Essa legislação é de 2017, mas a prática de cobrar a taxa de câmbio PTAX superior ao informado pelo BACEN é antiga e expliquei no artigo anterior que ela é necessária para se proteger da variação cambial ao mesmo tempo aconselhei que precisamos tomar cuidado com as porcentagens abusivas.

O que testemunhamos aqui é mais uma legislação que ficou apenas no papel por ter sido criada sem o trabalho de mudar o modus operandi atual.

Acredito que pouco ou nada melhoraria em nosso comércio exterior acabar com essa prática, digamos que:

Se a ANTAQ conseguisse exigir que a taxa cambial não seja acima da PTAX, iríamos pagar menos no frete internacional?

Se isso acontecesse hoje de alguma forma mágica, imediatamente o valor do frete subiria a um patamar seguro o bastante para que os Armadores e Agentes de Carga se protegessem da variação cambial, ou seria criado algum custo de destino, com nome em inglês pomposo, com o mesmo objetivo, algo como:

  • Oscillation Tax Charge
  • ANTAQ Tax Charge – Em homenagem a Autarquia
  • FX Rate Tax Charge

E, no final, a grande mudança (sarcasmo) na forma que pagamos seria:

Parece uma forma mais simples de apresentar os valores, mas não deixa de ser o famoso trocar seis por meia dúzia, nada mudaria para quem cobra e o Importador teria que pagar mais em custos, como impostos e armazenagem.

Essa proteção cambial encareceria o Valor Aduaneiro da Importação (Produto + Frete + Seguro + o tal do THC que entra ilegal no cálculo (como se não bastasse…).

***

Não se trata de querer defender o interesse Armadores e Agentes de Carga de cobrar a taxa cambial acima da PTAX , não é preciso ter muitos anos no comércio exterior para saber que há problemas mais importantes para a ANTAQ e outras autarquias se preocuparem.

No entanto, é importante fiscalizar, ainda mais num mercado com pouquíssimas opções de Armadores, mas entendo que precisamos buscar a transparência de forma que auxilie tanto quem presta o serviço quanto quem o contrata.

Recomendo a leitura do artigo do Advogado Marcelo Valentim, no Portogente, que me inspirou a desenvolver este texto e sua abordagem legal é um complemento válido.

E você, leitora(o)?

O que pensa sobre o assunto? Acredita que é melhor que se cumpra a legislação ou existe mesmo assuntos mais importantes? Vamos continuar o debate nos comentários.